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Vendedores do Mercado Municipal batalham contra a inflação

Virgínia Silveira esfrega as mãos geladas. Para poder estar na sua banca habitual do Mercado Municipal de Ovar levantou-se às 4 horas da manhã. É em São Bernardo, Aveiro, onde reside, que colhe alface, tomate, pepino para vender em Ovar. “Às 7h já aqui estou com tudo pronto e só saímos a partir do meio dia e meia hora”.
Virgínia diz que “as pessoas não compram tanto desde que a inflação começou a subir. As coisas estão mais caras, as pessoas ganham o mesmo e não compram tanto”.

A sua experiência diz que esta fase do ano é sempre menos boa e nem a vender a preços do ano passado o negócio melhora.
Virgínia refere que “vai valendo a pena vir para aqui para assegurar os clientes”. A sua esperança é que que tudo melhore, “caso contrário vir de tão longe não vale a pena”.

Na zona de frutas e legumas, Maria de Fátima, produtora e vendedora de São Vicente de Pereira, pensa que o Mercado ainda é importante na economia local. “O povo socorre-se muito do mercado para comprar legumes, peixe e tudo mais fesco e mais barato, porque os preços não têm nada a ver”. As coisas não estarão tão más, porque, na sua óptica, “às vezes, exageram nas notícias do aumento de preços. Aqui não é tanto”. O mercado de quinta-feira “é mais fraco, mas ao sábado é muito bom”, sentencia.

Na secção do peixe, Celeste Paiva e Manuel Sona estão a amanhar e escalar peixe. Celeste já vende no Mercado vareiro há 62 anos e sabe avaliar: “Está muito fraco o negócio, falta dinheiro nas carteiras e as grandes superfícies mataram muito do negócio que fazíamos aqui”, critica Manuel Sona que para ali estar levantou-se às 3h para ir à lota de Matosinhos. “Está tudo mais caro porque também compramos mais caro na lota”.

Os valores estão quase no dobro “para nós”, frisa, por isso “temos de aumentar ao cliente”. E não se mostra muito convicto de que “isto vá melhorar muito”. “A clientela foge para as grandes superfícies e só conseguimos competir com eles se tivermos sempre o peixinho fresco. Aí, sim, vêm de São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, de propósito, também por causa dos legumes que são muito melhores da nossa zona”. “Vamos ver se melhora nesta fase do Carnaval porque as pessoas têm que poupar”, concluiu.

A “São das Flores” como é conhecida a Maria da Conceição, é filha de pai vareiro mas nascida e criada em São Martinho da Gândara, no concelho de Oliveira de Azeméis, carrega um sorriso que disfarça alguma amargura.
“O que a gente vendia antes da pandemia e desta inflação nem se compara com o que se vende agora”. “A flor é considerado um artigo de luxo e pronto”. A vendedora já pensou muitas vezes em desistir. “O preço subiu muito e um Euro a mais no ramo de flores já é muito dinheiro e as pessoas queixam-se”.
Veja: “Um ramo gerberas, há dois meses, custava 6 euros, hoje custa para mim 9,5 mais IVA. É muito caro para todos”.

As pessoas chegam à São das Flores para comprar mais barato porque “tenho estufas mas o tempo não permite fazer flor. Tudo ajuda e este inverno pesado não ajuda nada”. Depois, queixa-se que também compra semente mais cara. “Bem, eu nem faço contas à mão de obra”.
Há 40 anos que vende em Ovar e, embora já lhe tenha passado pela cabeça, não vai desistir. “Vou deixar as estufas a crescer pasto? Ganhamos menos mas vou continuar a vir aqui. Mas custa muito, porque neste mercado eu vendia tanto, tanto, e agora é isto… tenho tanta pena.”

No piso superior do Mercado estão instalados bar e padarias.

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