“Uma Vaca a Arrotar Metano” no Buçaquinho (em lançamento)
Talvez o leitor deva ficar esclarecido de que este livro é uma tragicomédia.
O gosto adstringente da vida ao som de um compasso. Uma câmera metida dentro de uma cabeça inflamada. Tal qual o mundo. Tique-taque.
Gabriela Relvas acrescenta que “a boca que conta esta história tem nos lábios um canhão. Por isso, muito cuidado com os ouvidos. E muito cuidado com a imaginação. Trata-se de um superpoder que deve ser bem usado. Mais, não estranhe se vir por aí a autora deste livro disfarçada de nota de rodapé, ou pior, de pijama cheio de manchas de café que acumula um cheiro obsceno a corpo”, adverte.
Antónia marca umas férias de quatro dias na balsâmica e hipnótica ilha de São Miguel. Com verdadeiras intenções de fazer a ponta de um corno, que se traduz em fugir ao seu nível de alta intensidade, despoluir-se dos oito homens e uma metade que mete na cama, vê-se sozinha com a sua cabeça bomba-relógio, sem conseguir livrar-se do castigo que a assombra: a superstição. Problema que a obriga às situações mais hilariantes, e que se vem agudizando desde que conheceu Maria de Jesus, mulher a quem paga para ser sua amiga, depois de contratada por ser versada em artes ocultas.
A questão que se coloca é: não será tudo isto uma máscara a encobrir coisas que volta e meia atingem como balas quem está vivo?
Um romance selvagem e insólito que não pede licença. A autora esmorizense escreve com uma faca na mão, abre feridas e cospe-as com vernáculos, faz-nos rir em voz alta mas deixa-nos um inevitável gosto a sangue, que muito podia ser nosso.
Tudo aqui é enfermo e genial.