Opinião

“Uma terça-feira rosada de negro”, por António Costa

«Acordei sobressaltado com mensagens de amigos que me informavam de que a bófia era capaz de passar cá por casa, e passou. O assunto era sobre um elemento químico qualquer que nem sei bem para que serve, mas serve para muito gente ganhar dinheiro. E foi essa a merda! A bófia surgiu-me ao meio da manhã. Ofereci-lhes torradas para amenizar a “coisa”. Não aceitaram, porque, segundo eles, já tinham tomado o pequeno-almoço. Fizeram cara feia e reviraram-me o quarto, a sala e a marquise onde guardo os álbuns fotográficos dos familiares que, entretanto, fui empregando aqui e ali.

Comecei a receber mensagens anónimas: “Então, Kosta! Agora kero ver se te safas! Nem o Almeida Santos nem os ciganos do Pragal te vão dar aquela mãozinha! Ahah…”, dizia uma delas. Desconfio de quem seja. E vocês também. Mas como não ligo a “sapos de loiça” (parafraseando o camarada indigesto Pedro Vieira), ignorei.

Fui até Belém. Entrei no Palácio e bebi dois Favaios e uma Macieira. Café e bolachas de aveia também fizeram parte. Reparei no poster das Kardashian na parede do quarto do Marcelo. Recebeu-me no salão.

“Viva, António! Sim, aceito que te demitas, mas não te vás já embora, bebe mais um Favaios, por favor”. Bebi, não abri a boca e pirei-me dali. No caminho para casa, senti-me mal.

O motorista do carro que me conduzia mostrou-se preocupado comigo e disse-me: “Até o levava ao hospital, mas estão todos fechados, Exmo. ex-primeiro ministro. Mas eu dou um pulo à farmácia para comprar-lhe algo, até porque vai precisar de alguma coisa contra a azia assim que começar a receber telefonemas ou mensagens do Pedro Nuno Santos”.

Remeti-me ao silêncio e fiquei largos minutos só a existir, no banco traseiro do BMW”.

Continuei a receber toques, chamadas e mensagens anónimas: “Vou fazer do PSD o meu bichinho de estimação e tu vais ficar a ver… Ahahah… Tu, o lítio, o Almeida Santos e os ciganos de Arraiolos e os imigrantes de Albergaria-a-Velha…”, dizia uma delas.

O “sapo de loiça” encontrava-se efusivo como um puto na adolescência prestes a perder a virgindade e acabara de colocar o Luís Montenegro como “amigo chegado” no Instagram. Entretanto, recebo também uma mensagem do Pedro Nuno Santos: “António… A luta, agora, é que é mesmo para continuar, camarada! Abraço. Foi um prazer, acho eu…”. Respondi-lhe com um mero “baza só, fdx!”.

Já madrugada adentro, enquanto escutava Pink Floyd e a Marcha Fúnebre de Chopin, pus-me a ver fotografias antigas, com a Graça Freitas, com o almirante das vacinas, com o Rui Rio, com o Papa, com os Coldplay, com a Madonna e cozinhar cataplana na casa da Cristina…!

Bateu a saudade e senti-me com algumas tonturas. Resolvi ir ao hospital, mas lembrei-me de que estavam todos fechados. Bebi o Favaios que havia fanado de manhã da casa do Marcelo e adormeci.»

Pedro Nuno Marques

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