Um texto que ficou triste
Este fim-de-semana, estava a jantar num dos espaços míticos de Ovar, de uma pessoa que respeito muito, e aproveitava para rever amigos com quem tenho estado menos.
No meio dessa celebração de um aniversário, não pude esconder o contentamento de um dos amigos, com quem convivo menos agora, me reforçar o acompanhamento deste espaço. É honroso saber que somos seguidos no que gostamos de fazer, e assim, no conversa puxa conversa, ele desafiava-me a tentar encontrar forma de escrever sobre aquele jantar, sobre aquele reencontro. Mentalmente, procurei formas de inserir o jantar sem desrespeitar este lugar de escrita. Pretendia dar-lhe essa pequena alegria, sem fazê-lo com ânimo leve, com falta de dedicação a todos os outros que tão simpaticamente me acompanham aqui.
Lembrei-me de enaltecer a juventude vareira. O jantar, aquele reencontro, seria a forma de analogia perfeita, para o jeito como os ovarenses gostam de se presentear com a felicidade. Porém, e de repente, tudo mudou. Num Domingo, que ficará para sempre como maldito, no fulcro de uma festa que não era a minha, tive que afastar-me para passarem duas ambulâncias em catadupa. Alguém se sentiu mal, pensei. Mas pensei mal. Foi pior que isso, foi um dos jovens que indirectamente ia elogiar, que estava a partir para um caminho que, mais tarde ou mais cedo, todos iremos percorrer. Senti-me completamente desolado, sem vontade de dizer o que quer que fosse.
Todas as palavras pareciam demasiado estúpidas e sem sentido de serem ditas. Não o conhecia pessoalmente, apesar de nos cruzarmos em tantos espaços, em tantos amigos e em tantos momentos dos que pretendia elogiar neste texto. É uma facada em todos os que ficam, fossem próximos dele ou não. É uma notícia demasiado triste para não marcar.
Desculpem-me os chegados, por falar dele neste texto, com alguma propriedade que não deveria ser minha. Contudo, faço-o por uma razão. O que me move a escrever, seja sobre que tema for, é a paixão, a vontade de expressar sentimentos. E esta notícia deixa-me todos os sentimentos em reboliço. Não me apetece estar feliz, sinto-me mal de escrever sobre alguém que não conhecia mais do que de vista, mesmo vendo-o sempre a sorrir, na companhia de tantos com quem me dou bem. Ele não me era próximo, mas ao mesmo tempo era. Era um jovem, mais um que batalharia por tantos sonhos como eu.
Cada um é um jovem diferente, mas existem traços que nos definem, por isso se fazem as gerações, as divisões das idades. Por tudo isso, foi cedo demais. Deixou um rasto de amor, isso é visível em todo o lado, mas foi cedo demais. Merecia mais tempo, merecia mais sonhos e sensações. É doloroso e muito, muito, triste. Não o conhecia, mas sinto a perda. Não consigo deixar de sentir.
Queria deixar uma palavra muito forte de apoio a todos os verdadeiros amigos do Diogo, a todos os familiares e a todos os que, como eu, sentem dor pela partida de um jovem. Como disse, não o conhecia, mas pelo que percebi dos relatos em torno dele, a boa-disposição era marca. E essa marca não deve ser esquecida. Não a boa-disposição disparatada, a boa-disposição que alimenta as amizades saudáveis, a que potencia prazer a todos os que nos rodeiam.
Nas desgraças, devemos procurar as mensagens. Normalmente, são sempre as mesmas: valemos pouco, não devemos preocupar-nos em demasia com coisas pequenas. E nesse sentido, fazendo esta pequena e sentida homenagem, a uma pessoa que partiu numa hora que não me podem fazer acreditar que era a dele, também deixo uma palavra ao meu amigo que me pediu o jantar neste texto. Não somos nada e por isso devemos dar tudo quanto podemos, no tempo que nos é permitido.
Carlos, sei que ficas contente de eu encontrar forma de escrever sobre o que me pediste e por isso eu faço-o.
A minha homenagem ao Diogo é ambígua por falar de outras pessoas, mas é tão sincera como se cada palavra dissesse Diogo. Uso o Carlos, o meu amigo, para provar que nesta vida, que é tão bonita como maldita, não devemos criar adiamentos. Se hoje, com uma simples palavra, podemos deixar a nossa marca em outros, pois então que o façamos.
Sei que o Diogo o fez, pela amizade que tenho com muitos dos que eram afeiçoados a ele.
Um abraço imenso a todos os que sentem o pesar, desde a família aos amigos. Nós por cá continuamos, honrando a viagem do Diogo com amor, dedicação e, acima de tudo, esperança. O tempo vai, as pessoas vão, mas as marcas ficam. Ele deixou a dele e eu deixo a minha para ele.
Descansa em paz, Diogo!
Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
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