Cerca de 3.500 pessoas vestidas de preto participaram hoje numa marcha de protesto contra a afetação dos 55.000 habitantes do concelho à Unidade Local de Saúde (ULS) de Aveiro.
“Não quero morrer no caminho” foi, por isso, uma das mensagens pintadas nos cartazes e faixas que acompanharam o percurso entre a estação de comboios e o tribunal, juntamente com frases como “Ovar está de luto”, “Demissão do ministro da Saúde” e “Ovar não pode ser moeda de troca”.
Sara Terra, porta-voz da marcha organizada pela plataforma cívica “Coração Vareiro”, refere que essa última mensagem alude ao que muitos consideram a única explicação possível para a “situação inadmissível e inexplicável” que se está a viver em Ovar.
Profissionais de saúde que participaram no protesto e conhecem o plano de negócios da ULS de Aveiro garantem que não há justificação técnica para a mudança que o Governo quer implementar em janeiro e Sara Terra concorda: “Não há nenhum argumento válido para deixarmos de ser atendidos no Hospital da Feira, seja ao nível da gestão económica, da eficiência administrativa, de oferta de cuidados de saúde ou da qualidade dos serviços prestados”.
Se a população se sente de luto é, aliás, pelo que a porta-voz da marcha considera a “sucessiva discriminação” da rede local de saúde face à oferta dos territórios vizinhos: “Estamos sempre a perder valências e não percebemos o critério. São João da Madeira só tem 22.000 habitantes e reabriu a Urgência do seu hospital; Ovar tem 55.000 habitantes, no verão duplica essa população devido à época balnear e continua com a Urgência fechada”.
A incompreensão é idêntica quanto aos centros de saúde do concelho, já que “a Câmara de Ovar andou a pagar com verbas municipais as obras nas unidades de Arada e Maceda, e elas continuam encerradas”.
Milhares assinaram um manifesto apelando a que o Governo reverta a decisão de referenciar a população vareira para a ULS de Aveiro, integre os cuidados de saúde primários e hospital de Ovar na ULS do Entre Douro e Vouga (com sede na Feira), e legisle no sentido da “referenciação hospitalar de Ovar a Norte” – o que Sara Terra quer ver “por escrito”, para evitar “a ilusão de que o utente pode escolher onde ser atendido”.
Ligia Pode, empresária de Ovar, também fez uma intervenção durante a qual perguntou pelo executivo que, ao contrário, das outras forças partidárias, não se fez representar.
Depois também respondeu a Salvador Malheiro que voltou a acusar o movimento de não ter rosto.