Os hospitais espanhóis começam a recompor-se aos poucos da tempestade provocada pelo novo coronavírus. Na linha da frente desta dura batalha está Solange Valente, uma enfermeira natural de Ovar que trabalha desde 2008 nos cuidados intensivos neonatais do Hospital Geral da Catalunha.
A sua vida mudou drasticamente quando a unidade foi transformada do dia para a noite numa unidade de cuidados intensivos para adultos com covid-19. “A alteração foi completamente brusca, porque a unidade foi montada à medida que os doentes chegavam. Foi tudo muito rápido, tivemos que nos adaptar tanto aos pacientes como ao material completamente diferente do que costumávamos usar, sendo o conhecimento sobre o uso do ventilador a nossa única vantagem”, explica Solange, ao JN deste dia 10 de Junho.
O trabalho da enfermeira nos cuidados intensivos ia além de controlar a evolução dos doentes ou administrar a certa hora a medicação necessária. Mesmo que a maioria deles pacientes estivessem em situação muito crítica – em coma induzido -, Solange tornou-se o seu único apoio, porque as visitas familiares foram proibidas. “Nós tentávamos alegrar o dia deles da melhor forma possível. Fazíamos videochamadas com os familiares e oferecíamos-lhes uma mão amiga num momento tão complicado”.
Ultrapassados os piores momentos desta guerra, a frustração invade a mente de todos os profissionais que têm lidado com a vida e a morte. “Psicologicamente foi muito duro, das coisas mais duras que já vivi. Nós, os profissionais de saúde, dizemos que se agora surgisse uma nova vaga de contágios não estaríamos ainda suficientemente capacitados a nível psicológico para poder enfrentar esse novo problema”.
Solange já voltou a tratar de crianças prematuras. “O hospital continua a ter alguns pacientes infectados, mas tem-se criado um circuito especial e fechado e, assim, podemos manter a segurança do resto dos doentes”.