Opinião

Setembro e, depois, vai-se a ver e já é Natal – Por Pedro Nuno

Setembro. Parece que tudo vai recomeçar, após cerca de dois meses de folia, onde tudo, ou quase tudo, aqui e acolá, parou. Normal é. Daqui a uma semana, assinala-se o dia em que as torres gémeas foram postas abaixo, efeméride intercalada com o início das aulas e o problema secular de falta de professores.

Um tempo volvido, surge a Implantação da República, este ano com mesmo notoriedade por calhar no fim-de-semana (Irra!). Ao redor do Halloween – passo a embruxada coincidência -, os casos José Sócrates e de Ricardo Salgado vêm novamente à tona, provavelmente para verem as respectivas audiências adiadas por mais uma greve (e bem, e bem!) dos camaradas oficiais de justiça. Adiante.

O São Martinho só será notícia porque o quilo da castanha estará bem mais caro, talvez por causa da guerra na Ucrânia e da turbulência na Palestina. Entretanto, estamos em meados de Novembro e há pessoas que já têm o pinheiro natalício montado há duas semanas.

Dizem ser “a época mais especial do ano” ou lá o que é. Uma minoria composta por senhoras entre os 45 e 70 anos dizem que é a “segunda melhor altura do ano”, apenas superada pelo faraónico concerto de Tony Carreira na Expofacic.

E, num ápice, chegámos a Dezembro. As redes sociais são invadidas por fotografias de portugueses em Vigo, junto a luzes e decorações natalícias que começaram a ser montadas enquanto eu enfardava bolas de alfarroba na praia da Barra e tentava descobrir um motel baratucho para um casal amigo vindo de fora.

Posto isto, vai-se a ver e é Natal. Gente que eu julgava morta envia-me mensagens – daquelas “pré-fabricadas” – a desejar boas festas e coisas alienadas dessas. Não respondo.

Depois, chega 2025. Televisões e repórteres desdobram-se entre cidadãos comuns com as perguntas da praxe: “Quais os desejos para o novo ano?” ou “O que perspectiva para 2025?” ou etc. Tento deixar de fumar e prometo ser mais maduro e responsável. Não funciona, evidentemente. Janeiro e Fevereiro são mórbidos (com a ampla excepção das festas de São Gonçalinho, em Aveiro). Anda tudo amorfo depois da temporada festiva, naturalmente.

Além disso, faz frio, há trabalho acumulado e exames da faculdade. É provável que, em Março, o assunto “aeroporto de Lisboa” regresse das sombras, tal e qual como tem acontecido nos últimos sessenta anos. Abril é sinónimo de santa e imaculada Liberdade, por muito que muitos a deturpem, ignorem e a tentem assassinar.

A Páscoa, nas entranhas do esquecimento, tem vindo a perder protagonismo e só é lembrada porque a nossa avó ou tia nos mete uma notinha na algibeira como se estivesse a passar-nos uma pastilha de ecstasy. Chegámos a Maio e não só todos os miúdos do país já têm professores como o número de grávidas que deram á luz numa autoestrada ou rotunda caiu entre 2% a 5%. Chega Junho e, com ele, os festivais de Verão, finos a 5€ e fatias de pizza a 10€, talvez por causa da guerra na Ucrânia ou do conflito em Gaza. Depois…

Depois vai-se a ver e já estou estendido outra vez na toalha, a comer bolas de alfarroba sem fim e a contemplar um avião publicitário com a mensagem: “Não perca! Tony Carreira na Expofacic! Apareça!”.

Pedro Nuno Marques

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