“Se eu fosse ladrão… roubava” para rever o último filme de Paulo Rocha
Há nove anos, estreava o último filme do realizador vareiro, Paulo Rocha, “Se eu fosse ladrão… roubava”, com cenário na praia do Furadouro e passagens pela Senhora de Entre-Águas, em Válega.
Este é um filme de memórias. Tendo como fundo os brasileiros torna-viagem, acompanhamos Vitalino. Estamos nos anos vinte, um pequeno lavrador de S. Vicente vê o seu pai morrer com a peste que dizima o País. Alguns anos mais tarde, de todos os irmãos Vitalino é o mais aguerrido e toma o lugar de homem da casa. Mas a aldeia onde vive é demasiado pequena para as suas aspirações e decide rumar ao Brasil deixando as suas irmãs encarregues dos trabalhos da casa. Em paralelismo com a história de Vitalino entramos no mundo cinematográfico de Paulo Rocha, percorrendo os seus filmes e fantasmas ao longo destes anos.
Partindo da memória familiar e da matéria dos seus filmes, Paulo Rocha revisita as suas origens e as referências maiores da sua vida e obra, numa construção fluida e complexa, que é conscientemente testamental embora só indirectamente autobiográfica (ele filma-se através do pai e dos personagens da sua obra). O motor inicial do filme é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar para o Brasil, para onde partiu efectivamente em 1909 (embora a cronologia verdadeira, tal como os factos e os nomes, sejam alterados, ou por vezes deslocados, em função das rimas com os outros filmes).
Realização: Paulo Rocha (1935 – 2012)
Argumento: Paulo Rocha, Regina Guimarães, João Carlos Viana
Elenco: Isabel Ruth, Luís Miguel Cintra, Joana Bárcia, Carla Chambel, Raquel Dias, Márcia Breia, João Cardoso, João Pedro Vaz, Norberto Barroca, Lima Duarte (Brasil), Chandra Malatitch, Miguel Moreira, Paulo Rocha
Figura decisiva do Cinema Novo português, que nos anos 60 irrompeu bruscamente de décadas de um cinema português sem qualquer relevância ou interesse, Paulo Rocha deixou, ainda em vida, completada uma derradeira longa-metragem, “Se Eu Fosse Ladrão… Roubava”. No processo de pós-produção desse filme, deu também, por sua conta e risco, início à digitalização e restauro dos seus dois primeiros e extraordinários filmes – “Os Verdes Anos” e “Mudar de Vida”.
No passado dia 14 de Maio de 2015, esses dois filmes regressaram aos ecrãs dos cinemas (e são editados em DVD) nas novas versões digitais restauradas – num trabalho que foi retomado e prosseguido pela Cinemateca Portuguesa – a acompanhar a estreia de “Se Eu Fosse Ladrão… Roubava”. Nesse filme, que teve a sua estreia mundial no Festival de Locarno, Paulo Rocha como que rememora toda a sua vida e todo o seu trabalho de 50 anos de cinema.
A edição DVD de “Os Verdes Anos” foi lançada em todo o país no dia 16 de Maio desse ano, com o jornal Público, e, nesse mesmo dia, foi lançado um pack com “Os Verdes Anos” e “Mudar de Vida”.
Paulo Rocha nasceu no Porto, em 1935, no seio de uma família de São Vicente de Pereira, do concelho de Ovar, e morreu em Vila Nova de Gaia, no final do ano de 2012, mas refugiava-se muito tempo no Furadouro, praia que adorava, em casa de familiares.
Ano: 1963
Realização: Paulo Rocha
Argumento: Paulo Rocha e Nuno Bragança
Música: Carlos Paredes
Elenco: Isabel Ruth, Rui Gomes, Ruy Furtado, Paulo Renato, Óscar Acúrcio, Carlos Jesus Afonso, Manuel Bento, Ruy Castelar, Júlio Cleto, Olga de Campos, Manoel de Oliveira, Victor Dias, Henriqueta Domingues, Carlos Alberto dos Santos, Raúl Dubini, Irene Dyne, Alberto Ghira, Maria Helena, Cândida Lacerda, Elisa Maria, Joaquim António Mendes, Manuel Reis, Carlos Rodrigues, Carlos José Teixeira, Harry Wheeland, Rosa María Vázquez
Sinopse: Rui Gomes e Isabel Ruth, na obra que marca o início do Cinema Novo português. «Os Verdes Anos» é a história da iniciação de dois jovens provincianos nos problemas da cidade e do amor. Um olhar terno, mas também desencantado e amargo, sobre Lisboa. Uma obra cuja influência sobre a geração mais recente de cineastas portugueses é enorme. Neste caso, trata-se de uma cópia digital, que transcreve, em resolução 2k, um restauro concluído analogicamente no laboratório da Cinemateca Portuguesa, em 2006, com aprovação do realizador e sob a supervisão de Pedro Costa. Nesse negativo de imagem de 35mm, foram enxertados (por iniciativa do próprio Paulo Rocha) alguns planos que tinham sido cortados por motivo de censura e que foram obtidos de uma cópia de 16mm tirada originalmente por iniciativa do realizador para a sua divulgação no Japão.
Ano: 1966
Realização: Paulo Rocha
Argumento: Paulo Rocha e António Reis
Música: Carlos Paredes
Elenco: Geraldo D’el Rey, Isabel Ruth, Maria Barroso, João Guedes, Constança Navarro, Mário Santos, Nunes Vidal, António Coelho, Soares Couto, António Pinho
Sinopse: Embalado pela música de Carlos Paredes, «Mudar de Vida» tem a emigração como pano de fundo. Conta a história de Adelino, um homem transformado pela guerra de África, onde combateu, e abandonado pela noiva, que o preteriu em favor do irmão. De regresso à sua terra, em Furadouro, perto de Ovar, e à comunidade piscatória de onde saíra, depara-se com um mundo em mudança. A sua perturbação perante as novas realidades é acentuada pelo renascer da paixão quando conhece Albertina, uma jovem de temperamento selvagem e impetuoso que o leva a partir novamente.