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“Saudade, Ici et là-bas” consagra atriz vareira Isabel Ribeiro em Avignon

O Festival off Avignon contou com lotações esgotadas para ver, durante este mês, a peça de teatro “Saudade, Ici et là-bas”, da autoria da lusodescendente Isabel Ribeiro, encenada por Alexis Desseaux, um musical sobre o desenraizamento e a transmissão, com cores lusófonas.

Acompanhada pelos atores-músicos Dan Inger dos Santos e Simon Quintana, Isabel Ribeiro assume igualmente o seu papel de atriz.

A história desenvolve-se à volta da venda da casa familiar e é a ocasião para dois irmãos abrirem as portas a uma vida de recordações e confidências. É um tempo de Saudade onde o presente e o passado se confundem, ao se abrirem as janelas da casa dos anfitriões.

Com uma carreira de mais de 20 anos no mundo do teatro, dança e música, Isabel Ribeiro assina pela primeira vez uma peça falando da imigração portuguesa em França.

“Precisava de prestar uma homenagem a todos estes portugueses que vieram para França e às nossas famílias. Não numa perspetiva de reivindicação, mas sim para não esquecermos de onde viemos”, afirma a atriz de origem vareira.

Isabel Ribeiro reflete a dupla cultura em que cresceu e que forma a identidade de tantos lusodescendentes. Nasceu em França, filha de pai de Viana do Castelo e de mãe de Ovar. A importância de preservar e transmitir aquilo que a sua família viveu no país de origem e no país de acolhimento revelou-se mais tarde, encontrando agora uma forma de se manifestar através desta peça.

“Senti esta necessidade de trabalhar mais profundamente e procurar o que é para mim a transmissão cultural, o que é esta dupla cultura. Acho que todos nos questionamos dizendo que somos franceses, com origens portuguesas, mas como é que eu vivo isso”, questiona.

O espetáculo é ainda uma forma de Isabel Ribeiro mostrar a sua admiração pela sua família e pelas sucessivas gerações de emigrantes. “Admiro a viagem dos meus pais, admiro a viagem de todos aqueles que, corajosamente, tiveram de partir com os olhos fixos no horizonte e com os seus corações cheios de memórias”, disse em entrevista ao Lusojornal, em maio deste ano.

“Saudade, ici et là-bas”, que surgiu a convite do festival “Novembre em Normandie” e com a companhia Cinéthéact, trata a história de dois irmãos e um sobrinho que têm de decidir sobre a venda da casa dos pais em Portugal, uma decisão “avassaladora” que leva os descendentes a confrontarem-se com as suas raízes.

“Este encontro permite evocar uma história familiar que Manu [o sobrinho] não conhece porque ele é de uma outra geração. Ele é filho de uma mulher de origem portuguesa, mas não conhece muita coisa sobre o passado da família e vai descobrir os seus laços à família portuguesa”, explicou.

A música é um elemento destacado no espetáculo, funcionando as canções como um ele daquele encontro e um convite para estabelecer a ligação entre os dois países.

Da emigração portuguesa ao sentimento universal

A peça é encenada por Alexis Desseaux e conta, além da atriz, com Dan Inger dos Santos e Simon Gielen no elenco.

O acolhimento tem sido positivo, até porque, apesar de ser focada na emigração portuguesa para França acabou por tratar um tema universal, sobre o lugar de pertença e a necessidade de sair dele em busca de uma vida melhor.

“As pessoas de origem portuguesa ficaram muito emocionadas e mesmo quem não tem nada a ver com Portugal disse que também foi tocado porque toda a gente, a um certo momento, já foi obrigado a abandonar o sítio de onde é para procurar uma vida melhor”, conclui Isabel Ribeiro.

Isabel Ribeiro baseou-se na sua própria vivência, também nas experiências conhecidas de tantas outras famílias de portugueses e outos lusófonos e consegue, de forma inteligente, deixar a interrogação de como transmitir a história das gerações precedentes e mesmo de um país inteiro às novas gerações?

Espaços de saudade divinamente escolhidos e preenchidos musicalmente por Dan Inger e Simon Quintana, excelentes atores-músicos que acompanham a voz clara de Isabel Ribeiro, numa representação teatral em que se mistura a melancolia, a tristeza e a alegria.

A música assume uma grande importância e permite transmitir, no tempo, mais do que os próprios diálogos. Todas as músicas estão ligadas à lusofonia, uma forma de embarcar os espetadores no tempo e no espaço.

MEMÓRIAS DE OVAR

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