Opinião

São Paio e o bullying aceitável – Por Pedro Nuno

 

É por estes dias que as ruas da Torreira se enchem de povo faminto por diversão. É sempre assim, todos os anos, por esta altura. Aquela estreita linha de terra que separa a ria do mar é uma espécie de epicentro do Sistema Solar, onde a avenida principal transborda de multifacetadas barraquinhas que tudo vendem. É uma feira autêntica, daquelas que ainda fazem sonhar o folclore primitivo de quem vive estas coisas. Ali ao lado, no parque de campismo, tendas acumulam-se, onde centenas de jovens procuram viver os últimos dias de rebaldaria antes de as aulas terem início. É tudo tão mágica que só quem vive é que sabe.

Os excessos, aqui e acolá, são evidentes. Também eles fazem parte do processo de vivência, de aprendizagem, de convívio e de camaradagem, do bullying de São Paio. Envolto de uma devoção ímpar, o São Paio está de regresso à Torreira (hurra, hurra!). As noites turbulentas do areal são interrompidas com o nascer do sol. Dorme-se aquilo que se consegue. Nas primeiras horas após o despertar, o cérebro funciona a meio gás ou, simplesmente, não funciona. Fala-se sobre a noite anterior, de quem bebeu mais ou de quem bebeu menos, de quem fez figuras mais ou menos estapafúrdias, recordam-se namoradas ou namorados passados e verte-se uma ou outra lágrima causada pela ressaca e por uma certa nostalgia. Com o tempo, com a idade, esta garotada vai-se aperceber que a pior coisa que existe para esquecer uma namorada ou um namorado de tempos idos é embebedar-se até à morte ou próxima dela. Acaba por se tornar numa tortura e o coração quase que rebenta com tamanho número de palpitações atrozes. É o camarada São Paio que o diz, não eu. Adiante.

O fogo do mar e da ria são giros, principalmente este último. Pelo menos, é o que ouço dizer. Não é o meu caso. Nunca fui muito adepto de fogos-de-artifício. Cansa-me estar a olhar para o céu e ver luzes e fumo e coisas a rebentar. Parece que o pescoço, a determinada altura, começa a ficar combalido e exige que o faça regressar à posição natural. Mas sim, dizem que o fogo da ria é muito giro, exactamente como as moelas confecionadas no café do parque de campismo ou a forma cordial e genuína de como a Torreira recebe milhares de almas por estes dias.

Vá, divirtam-se e sejam felizes!

Pedro Nuno Marques

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