Santa Camarão passou o aniversário “descalçado”
Comerciante da Rua Visconde Ovar pondera encerramento
Arrancou em Agosto de 2020 e teria um ano de prazo de execução, no entanto, a empreitada de Requalificação dos Largos 1º de Dezembro, Santa Camarão e Combatentes e percursos de ligação – Rua Visconde de Ovar – Ovar, adjudicada à empresa Construções Carlos Pinho, Lda., continua no terreno, está atrasada e não tem fim à vista.
O Largo de Santa Camarão viu serem-lhe retiradas as pedras da calçada que por ali ficaram num monte à espera de melhor sorte. “Agora até parece que morreu um dos calceteiros que aqui andava”, segredou-nos um morador que não quis ser identificado. “Ficou assim neste estado na data do seu aniversário”, ironizou, relacionando com a data de nascimento do famoso pugilista que dá nome ao largo – Santa Camarão (25.12.1902).
Muito difícil está a vida dos comerciantes da Rua Visconde de Ovar, onde se situa a Padaria Viscondeza. Orlando Valente, gerente do espaço comercial, lamenta a “triste sorte que temos tido: primeiro foi o cerco sanitário e a Covid e agora tenho o acesso a minha casa impossibilitado”. “É só lama à minha porta, não passa aqui ninguém” e Orlando Valente dá por si, à porta da pastelaria, a ver os clientes a passar, de braços cruzados a pensar na vida. “Nem há estacionamento neste novo projecto que estão a fazer. Os passeios ficaram tão largos que também não se consegue parar um carro sem entupir o trânsito. Tudo feito sem olhar às reais necessidades das pessoas. Só nos conhecem quando há eleições”, critica.
O proprietário do estabelecimento estima em 40% a queda nas receitas nesta fase do ano que costuma ser a melhor. O desânimo começa a tomar conta de si e já avisou os cinco funcionários que o pior pode estar para vir. “A ginástica financeira tem limites e se isto não melhorar rapidamente, vou ter de encerrar a porta no início do próximo ano”.
Salvador Malheiro, presidente da Câmara, explica que o atraso nos trabalhos se fica a dever à “falta de materiais mas também à fase de final de mandato que passamos em que as autarquias incutiram pressão para conclusão de obras daqui resultando falta de pessoal e os atrasos”. Na Assembleia Municipal, onde foi questionado, o Edil sublinha, no entanto, que “há contratos firmados, nós pagamos ao dia e cá estaremos para exigir o cumprimento”, mas avisou que as “companhias actualmente investem tanto em engenharia como em juristas” e a Câmara Municipal de Ovar não quer entrar em batalhas jurídicas que ainda atrasariam mais o processo, penalizando ainda mais as populações.