Ricardo Alexandre: “Temos que fazer uma oposição mais activa”
Em entrevista ao OvarNews, o recém eleito presidente da concelhia do PS de Ovar mostra ao que vem, frisando que quer deixar o passado lá atrás
Como surgiu o Ricardo Alexandre como candidato à liderança do PS de Ovar?
O Ricardo Alexandre já está há seis anos em Ovar, já era militante socialista antes de vir para cá e integrou-se logo na estrutura do PS, porque achava que isso era importante. É o resultado de um percurso, pois há um ano atrás já se tinha colocado esta possibilidade, mas achei que ainda era cedo e não estavam reunidas as condições que considerava essenciais para avançar. Mas agora, devido a uma série de factores, entre os quais o apoio de um conjunto de personalidades incontornáveis que vieram ao meu encontro e como o apoio era vasto, achei que tinha chegado a hora.
Em algum momento se colocou a possibilidade de haver um vazio?
Não. Esta minha candidatura surgiu também para que não se dissesse que não havia ninguém para gerir o PS. O que se passou é que foi possível criar um consenso interno alargado. É claro que há sempre quem goste mais deste ou daquele, mas foi possível ter a certeza de que o trabalho que vou realizar vai ter o apoio de todos e é essa a nota essencial para ultrapassar este momento difícil que se seguiu à perda da Câmara Municipal.
Como vê a gestão camarária social-democrata?
O PSD, em grande medida, tem-se limitado a gerir o que estava lançado de trás, e não houve mudança significativa na gestão camarária. Neste orçamento, o senhor presidente da câmara diz que deixa a política do betão e vai passar a apostar nas pessoas, mas isso não surpreende, porque o PS, nos últimos 20 anos, construiu tudo o que era necessário para que alguns pontos do concelho tenham capacidade para gerir estruturas. Mas a verdade é que nem todo o concelho se pode gabar disso. Temos um Município a duas velocidades: Ovar e Esmoriz bem apetrechados e o resto das freguesias nem por isso, e esse era o plano que viria a seguir se o PS se mantivesse na liderança da Câmara Municipal.
E a questão do imaterial?
Trabalhar para as pessoas não quer dizer que se façam muitas festas. Trabalhar para as pessoas quer dizer apoiá-las. Isso tem sido feito com base em regulamentos que já existiam. Há uma série de respostas sociais que já existiam e que não exigem mais do que dar-lhes uma continuidade. Até ver, ainda não vi nada que me diga que as pessoas estão em primeiro lugar.
Vamos ter uma nova postura na oposição ao executivo social-democrata?
Eu já disse várias vezes que temos de estar atentos à gestão do PSD, porque eu nem sempre acho que eles têm razão e os nossos vereadores também não, mas temos que fazer uma oposição mais activa e ao mesmo tempo mais responsável. O PS não é um partido de protesto e, se calhar, até deve fazer alguns acordos com a CDU e o BE, no sentido de inviabilizar propostas do PSD, que tem a maioria e ainda a possibilidade de as aprovar com o voto de qualidade do presidente. Mas é diferente aprovar por maioria ou com o tal voto de qualidade. O PSD tem de perceber que nós não estamos aqui a ver passar os camiões. A verdade é que a Câmara Municipal era gerida de forma exemplar no tempo do PS e agora temos os nossos vereadores a votar constantemente contra a aquisição de serviços, porque, na maior parte das vezes, eles são feitos com apenas uma entidade. Era muito raro isso acontecer, pois tinhamos sempre duas ou três entidades a concurso. Não fica bem fazer procedimentos de aquisição de serviços numa câmara Municipal, o que leva a questionar o espírito em que são tomadas as decisões. Não queremos que aos nossos vereadores venha a ser imputada a culpa de alguma irregularidade. Nós só queremos que a lei seja cumprida na forma mais correcta possível.
Se o PSD ganhou as últimas autárquicas, o que falhou, em sua opinião?
Não queria estar a falar muito do passado, porque já o discutimos internamente e temos de avançar rapidamente. Antes das eleições autárquicas, temos dois combates importantes em 2017, que é ganhar as legislativas e as presidenciais, porque o PS, em Ovar, não perde eleições há muitos e muitos anos, a não ser a eleição do Dr. Passos Coelho, em 2011, e para a Câmara Municipal, tendo ganho todos as outras nos últimos 20 anos. E nas europeias voltou a ganhar expressivamente. O PS tem uma implantação em Ovar importante.
O anterior presidente da Câmara Municipal deixou no ar a possibilidade de um possível regresso. O PS está avaliar essa possibilidade?
Essa questão ainda é prematura de saber se será o Dr. Manuel Oliveira ou se será o Dr. Vitor Ferreira ou outra pessoa. A seu tempo teremos de resolver esse problema. Mas não está na ordem do dia. Nos últimos oito anos, em virtude de estar no poder, aconteceu o que sucede muito frequentemente, que foi alguma paralização do partido, porque ao estar na liderança da câmara, criou alguma acomodação. Por isso, também queremos lançar um plano de formação dos nossos dirigentes mas também dos nossos autarcas, porque embora se tenha conseguido trazer para dentro da nossa lista, novos militantes, precisamos sempre de mais. Mas essa nem uma preocupação, porque a participação de simpatizantes, nas últimas eleições internas, excedeu as nossas melhores expectativas, com mais de um milhar de pessoas, o que nos leva a crer que há muita gente que quererá entrar para o PS. Estamos a criar núcleos nas freguesias para facilitar esse processo e penso que de uma maneira ou doutra vamos consguir criar uma nova vaga de militantes, o que nos vai trazer mais participação e novas mais-valias.
Tendo em atenção o que se passou nas últimas autárquicas, a questão do Manuel Oliveira é incómoda?
O Dr. Manuel Oliveira pode dizer que quer voltar ou deixar de voltar, mas escuso-me a falar desse assunto, pois nós já debatemos internamente e não quero comentar. Tenho a a minha opinião pessoal. Agora, também acho que nem sempre dá resultado voltar ao passado, porque as pessoas não esquecem e as pessoas do PS também não esquecem e portanto, essa é uma questão de as pessoas, na altura própria, aparecerem e dizerem o que querem. No PS, nunca ninguém foi impedido de querer ser mas precisa de apoios para querer ser. Embora, repito, não esteja preocupado com os nomes para as autárquicas. No entanto, devo dizer que estamos a trabalhar no projecto autárquicas para chegarmos a 2016 comum plano amplo para dar a conhecer às pessoas o nosso projecto. O mais importante são as ideias e depois vamos pensar nas pessoas que melhor nelas encaixem.
Mesmo perdendo a Câmara, o PS tem a União das Freguesias e Válega…
Sim, e queremos trabalhar cada vez mais em conjunto com os nossos autarcas, mesmo naquelas freguesias onde não ganhamos mas temos autarcas eleitos, para estar sempre perto das preocupações das pessoas. Queremos abrir o PS, para as pessoas virem até nós, até à nossa sede. Vamos criar um email para que possam enviar as suas ideias e sugestões. Abrir-nos mais à sociedade civil e abrir-nos para perceber melhor quais são os anseios das populações.