“Retratos” da Arte Xávega no Museu de Ovar
Os irmãos Fernando Manuel Pinto e António Carlos Pinto reuniram na exposição de fotografia “Arte Xávega – Furadouro e Costa da Caparica”, e que vai estar aberta ao público até 1 de agosto no Museu de Ovar, a sensibilidade dos seus olhares muito próprios sobre a tradição vareira da Arte Xávega, que se vai perdendo e descaraterizando no tempo face a tanta indiferença das entidades competentes para com este património humano.
na sessão de abertura, o diretor do Museu de Ovar, Manuel Cleto, na presença de vários profissionais e amantes da fotografia, Fernando Pinto, autor das imagens sobre o Furadouro, apresentou os trabalhos ali expostos como uma componente etenográfica, enriquecidos pela decoração da Sala dos Fundadores com artefactos e trajes ligados à faina da pesca que fazem parte do espólio do próprio Museu de Ovar.
Seguiu-se um momento de reflexão partilhado pelos sentimentos e inquietações do Fernando e do António Pinto, sobre a evolução desta arte artesanal de pesca costeira a que familiares seus estiveram ligados. Assim o trabalho fotográfico do António Pinto reflete a sensibilidade não só de um profissional do áudio-visual como realizador de televisão, mas sobretudo de um ovarense com memórias de uma tradição da sua terra, que identifica como “mais humana, mais tradicional”, em relação à experiência vivenciada na Costa da Caparica, em que, como afirmou, tinha características idênticas às do Furadouro, mas acabou descaraterizada, “com barcos diferentes e em fibra para uma pesca intensiva”.
Já os testemunhos recheados de emoção apresentados pelo Fernando Pinto, cujo olhar apresentado nas suas fotos, são o olhar “de quem ama aquilo que vê” como afirmou, foram um grito de alerta para que a Arte Xávega, seja “apoiada e valorizada”. Este jornalista e fotografo apaixonado pelas gentes e suas tradições, bem como pelas belezas naturais e ambientais de Ovar, deixando como que um grito de revolta, chegou a afirmar, “os nossos homens morrem por 2 euros” , referindo-se à designada “parte”, que no dia (22/05/2013) do trágico naufrágio em que morreram 2 pescadores do barco «Jovem» no Furadouro coube a cada pescador para levar para casa, ganho numa dura luta pela vida no mar, na sequência da qual acabaria por sucumbir a terceira vitima, cujo rosto marcado pela dureza desta vida tinha sido foto de capa do livro “Lobos do Mar” de Fernando Pinto e José Fangueiro.
Um dia indescritível que o Fernando e o Manuel Vitoriano partilharam pessoalmente a dor deste drama, quando manhã cedo acompanhavam em trabalho de filmagens estes poucos resistentes da Arte Xávega. Um relato emotivo que marcou a sessão em que, foi ainda dada a palavra à convidada, Ana Paula Reis, chefe de divisão da cultura da Câmara Municipal de Ovar, que está a trabalhar no levantamento e entrevistas sobre as “particularidades” da tradição da Arte Xàvega, tendo adiantado que o Municipio tem em vista a apresentação de uma candidatura a património imaterial da Arte Xávega.
Iniciativa, que para o Padre Manuel Pires Bastos, mais do que um “certificado”, são “urgentes medidas concretas que salvem esta actividade”.
José Lopes