Regresso novamente a esta minha velha cidade… – Sérgio Lamarão Pereira
Após algum tempo ausente regresso novamente a esta cidade que tão bem conheço. Vim para ficar até a minha temperança o permitir. Cidade que habitamos e onde se vão perdendo os traços originais num passado que nos pertence, nos foi legado e nos é negado. Cimento que rompe e corrompe os céus a uma velocidade vertiginosa e dramática. Cidade onde vidas se refugiam, onde seres se escondem. Edifícios imponentes que retiram à natureza o seu espaço e o seu lugar. Alcatrão que esventra a terra. Estéticas e inestéticas obras de arte que se compram sem as percebermos neste totalitarismo das sociedades de consumo.
Cidade de virtudes e defeitos. Contradições e despesismos em benefício de poucos. Lugar em que (quase) todos trabalham quais formigas num imenso labirinto. Onde os rios correm sujos, onde tropeçamos com mendigos pedindo esmola (mendigos que não se vêm!) Prédios em completa degradação tal como parte da humanidade. Pássaros pousando sempre desconfiados. Aliás, quem não segue desconfiado quando caminha ao lado de outros homens? Estações de caminho de ferro perdidas no tempo. Carros que poluem. Gente poluída! Gente corrompida! Vento que sopra e faz as folhas caírem. Árvores semeadas ao acaso. Árvores propositadamente derrubadas! Zonas verdes cobertas de plástico que transeuntes jogam para o chão com a maior falta de civismo. Imundices variadas! Que treta de cidade… passeios esburacados e solos esventrados. Problemas que se finge não ver. Projectos que não passam disso mesmo!
Quero regressar ao meu lugar, mas não sei de onde sou! Sei que fui gerado e criado, mas não sei de onde vim nem para onde vou. Sinto-me a vaguear algures sem destino nenhum. À procura de mim próprio e dos outros que não sei se existem ou se são uma criação da minha mente.
Percorri inúmeros quilómetros numa vã esperança por um mundo mais digno, mas depressa me desiludi! Vagueei entre o passado e o futuro. Aquilo que fui, aquilo que já fui e aquilo que serei. Aquilo de que fugi.
Que viagem esta, que movimento. Que fluir constante. Consigo sentir as sinapses do meu cérebro. Ouvir murmúrios do passado. Ouvir chamamentos do futuro. De um futuro por onde já andei. Por onde já andei nesta minha viagem intemporal. Já gastei muita tinta e papel. Já imprimi e rasguei. Sorri e chorei. Por aquilo que vivi e recordei. Lágrimas que me inundaram os olhos e encheram oceanos. Que fizeram barcos naufragar. Este meu lamento que a humanidade chora. Este meu sofrimento que a humanidade sofre.
Mas acredito! Sim, acredito! Algo terá necessariamente que mudar e melhorar!
11/07/2021