Portugal ainda desigual – Por Diogo Fernandes Sousa

Portugal tem motivos para se orgulhar dos seus progressos na representação feminina na política.
Com 36% de deputadas no parlamento e 33% de ministras no governo, o país supera a média mundial e aproxima-se das democracias mais avançadas. No entanto, será este avanço suficiente? Se analisarmos o cenário global e nacional, percebemos que ainda há muito por fazer para garantir uma verdadeira igualdade de oportunidades.
O relatório Representation Matters é claro ao apontar que a participação das mulheres em cargos de liderança política e económica não é apenas uma questão de justiça social, mas também um motor de desenvolvimento. O estudo revela que o PIB global poderia crescer mais de 20% na próxima década se houvesse igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Isto significa que os países que não investem na igualdade de género estão, na prática, a desperdiçar potencial económico.
Se olharmos para a política, a disparidade global ainda é evidente: apenas 27 dos 193 países do mundo são liderados por mulheres, e em muitos casos essa liderança é meramente simbólica, sem verdadeiro poder de decisão. Mesmo na Europa, onde os avanços são mais evidentes, o Parlamento Europeu registou uma ligeira descida na representação feminina em 2024.
No setor económico, as mulheres continuam a ganhar menos que os homens e a enfrentar obstáculos para alcançar cargos de tomada de decisão. Em Portugal, a diferença salarial entre sexos aumentou nos últimos 10 anos, em vez de diminuir. Se em 2014 as mulheres ganhavam, em média, menos 141 euros por mês que os homens, hoje essa diferença é de 242 euros. Isto representa um retrocesso que exige medidas concretas para garantir igualdade salarial e condições justas de progressão na carreira.
Embora Portugal tenha melhorado significativamente a sua representação feminina na política e no mundo empresarial, a realidade mostra que as mulheres continuam a enfrentar desafios estruturais, tais como, resistência à mudança e desafios no equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Se queremos que Portugal seja um exemplo positivo na igualdade de género, temos de reforçar as políticas públicas que incentivam a participação feminina. Algumas medidas essenciais incluem a aplicação de leis mais rigorosas contra a violência e o assédio político, reformas na legislação laboral para garantir igualdade salarial e melhores condições de trabalho, incluindo políticas de transparência salarial, ou um maior investimento em creches e serviços de apoio à infância para que a maternidade não seja um fator de exclusão.
Concluindo, Portugal pode estar acima da média mundial na representação feminina na política, mas isso não significa que o problema esteja resolvido. A igualdade é um processo contínuo, que exige ação permanente. Garantir que as mulheres têm um lugar na tomada de decisões é uma questão de justiça, uma necessidade para uma sociedade mais equilibrada e para um futuro económico mais promissor.
Diogo Fernandes Sousa
Escritor do Livro “Rumo da Nação: Reflexões sobre a Portugalidade”
Professor do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte