Ovar por aí fora – Ricardo Alves Lopes
O que devemos a avaliar não é apenas se é bonito e carismático, ou se faz furor à vista, é se cumpre os propósitos.
Digo esta frase a propósito das últimas aposta da Câmara, em relação à nossa cidade. A rua do azulejo e a BTL, claro está. No que se refere à rua do azulejo, fartei-me de ver argumentos com os quais não posso concordar. A governação, seja ela local ou nacional, a meu ver, deve ser um motor das indústrias e do comércio, sem para isso ser o tutor de nenhuma delas. Deve ser a entidade que cria a possibilidade, proporciona o ambiente e regula quem nele se insere, não deve ser o ‘pai’ de ninguém.
Por isso, a meu ver, e perdoem-me todos os comerciantes locais, que eu tanto estimo, dizer-me que a medida de criar condições para abrirem novas esplanadas e espaços comerciais, atacando os que já existem, é demagógica e desenquadrada das realidades de negócios. Estão a imaginar o mayor de Nova Iorque a proibir negócios na 5th Avenue, para não atrapalhar os que já existem? Estão a pensar no António Costa a dizer que quer que fechem três cafés na Rua Augusta, porque há 4 mais antigos que estão a ser prejudicados?
Se não imaginam nada disso, porquê que a governação local teria que se limitar pelos que já existem? Se existem e dizem que as coisas não estão bem, também vão atacar agora quem queira criar algo novo e acredite que possa trazer algo de diferente à cidade? Claro que se eu for padeiro e souber que mais ninguém vende pão na minha cidade não tenho que me chatear muito, basta abrir as portas. Mas, hoje, meus caros, a realidade já não é assim. Não demora muito e podemos encomendar o pão pela internet, não se esqueçam. E a concorrência só é má para quem não quer evoluir, para quem tem receio de inovar, ou para quem acha que tem um qualquer dado adquirido apenas porque a porta está aberta.
Uma lógica destas, de aposta no turismo, não pode fazer com que se pensem os negócios como bairristas. Nem os habitantes de Ovar são menos que os do Porto, nem os visitantes de fora vêm apenas para ver carnaval e azulejos. Quem não pensar nisso, não precisa de concorrência para falecer nas entranhas de uma estagnação que só se alimenta por ideias ostracizadas e rendas baixas. Temos que diferenciar. E não se diferencia limitando a concorrência, diferencia-se promovendo o sector, fomentado a vontade de investimento e criando condições para que cada um seja livre de comunicar e promover o seu negócio. As identidades também são importantes nos cafés e restaurantes, não apenas nas grandes marcas que vemos na televisão.
No que se refere à BTL, parece-me uma excelente aposta, bastante focada na promoção da notoriedade da cidade, que tem vindo a criar condições para ser noticiada pela sua vertente cultural (melhor promoção possível de uma cidade), mas que ainda cometeu um erro, conforme referia no Facebook uma pessoa que muito estimo. Parece-me óptimo que se leve parte do nosso Carnaval e não tenho nada contra a presença das escolas de samba por lá, até porque também pertencem e enriquecem o nosso Carnaval, fazia falta era um destaque maior ao nosso carnavalesco.
Torres Vedras é conhecido pela sátira, cá é mais complexo, não basta fazer piadas sobre política e ter uma pessoa que faz os carros todos, é preciso abusar da criatividade e todos os anos criar novas maquetas, inventar do vazio e não de uma frase mal conseguida por um primeiro-ministro qualquer, mas, ainda assim, quando chega a hora de promover-nos fora de Ovar, caímos sempre na tentação de levar apenas os sons brasileiros, que também podem ser ouvidos em Estarreja ou na Mealhada.
O nosso carnaval não vale só pelo carnavalesco, mas também não vale só pelas escolas de samba ou pela passerelle, vale por essa diversidade e conjunto completo. Descriminar uma das partes, é diminuir o carnaval. E foi isso que aconteceu no aeroporto, em tempos, e foi isso que voltou a acontecer na BTL. Somos mais do que isso.
Mas, aparte esse reparo, destaco a iniciativa, a beleza do stand, o orgulho que é ver as trupes de reis e o pão de ló a serem falados, numa montra de azulejo. Que Ovar seja vista, lembrada e desejada. Por cá, faremos nós o nosso trabalho. Não faremos?
Ricardo Alves Lopes (Ral)
www.ricardoalopes.com
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