Ovar podia ser mais doce – Ricardo Alves Lopes
Temos que estar orgulhosos, meus senhores e minhas senhoras. A ACIP, Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, entregou os três primeiros prémios, referentes ao melhor pão-de-ló húmido de Portugal, a três casas do nosso concelho. Nomeadamente, primeiro lugar para a Casa Pão-de-Ló de Ovar Cruz, o segundo para a Pão-de-Ló de Ovar Flor de Liz e o terceiro lugar para a Propal, de Cortegaça. Comprovando que o pão-de-ló não é apenas um doce da cidade, é um doce do concelho.
E eu acho importante começarmos a ter isto presente, não somos apenas uma cidade, somos um concelho. Temos cidades e freguesias que muito nos enobrecem e nem sempre as temos presentes na nossa memória. Porém, não é a isso que me pretendo referir. É, em primeiro lugar, ao orgulho que sinto enquanto ovarense por estas distinções, mas também pela pequena tristeza que acompanha esse orgulho.
Conforme tive oportunidade de referir, no discurso que tão honrosamente tive oportunidade de fazer, no Primeiro Capítulo da Confraria do Pão-de-Ló de Ovar, não devemos estagnar a evolução da marca pão-de-ló de Ovar na qualidade dos seus produtos. Isso é privar as próprias pessoas, de outros concelhos e mesmo países, de provarem um doce secular, que não vale pela sua história, mas pelo seu gosto.
Uma marca necessita ser promovida, mas actualmente não é suficiente estar presente em concursos e feiras. Se as pessoas, do resto do país, tomarem conhecimento desta notícia, como podem chegar até nós? Não existe um site do pão-de-ló de Ovar que permita saber quais as casas disponíveis para venda, tampouco que permita uma encomenda on-line.
Fazendo uma pesquisa por Pão-de-Ló de Ovar, na primeira página de resposta do Google, que é a mais importante, daí em diante já ninguém se preocupa, podemos constatar que metade das respostas são receitas, outras são a história e depois aparecem as páginas de facebook, que, no meu entender, podem ser melhoradas. A página necessita ser apelativa, trabalhada como um resultado gráfico. A imagem vende. E atrás de um computador, ninguém pode provar.
Portanto, se não pode provar, precisa comer com os olhos. E comer com os olhos não é apenas o pão-de-ló, que, curiosamente, nem aparece nessas fotos da página, apenas carregada de pequenos avisos internos. Comer com os olhos é ter uma boa experiência de utilizador, com imagens apelativas, com um logótipo sempre presente para associação à marca, com fotografias de qualidade e escrita cuidada. Isto é comer com os olhos, o que se chama, desculpem-me o estrangeirismo, user experience. Não o uso por gabarolice, uso-o como método de promoverem vocês próprios umas pesquisas, porque o Google é muito fã desse conceito.
Não estou a dizer que no imediato é necessário um plano de negócios ou marketing alargado, mesmo achando que o era; estou a dizer que para promovermos a nossa tradição, e produtos, necessitamos pelo menos estar atentos aos princípios básicos. O próprio festival do pão-de-ló está mais pensado para os habitantes do concelho, que para os turistas. Fará isto sentido? Existirá alguém do concelho que não conheça o pão-de-ló de Ovar?
Não estou a dar respostas a nada, pois não as tenho. Estou apenas a levantar questões, para que Ovar (o concelho e não a cidade) seja cada vez mais doce. A organização é o primeiro passo, a internet é logo o segundo.
Ricardo Alves Lopes (Ral)
www.ricardoalopes.com
http://tempestadideias.wordpress.com