A Praia do Furadouro, por José Saramago
Entre outubro de 1979 e julho de 1980, José Saramago percorreu o país lés a lés a convite do Círculo de Leitores, que comemorava o décimo aniversário da sua implantação em Portugal.
Já foi dito várias vezes o que parece evidente: o eixo da leitura é uma privilegiada porta de entrada no programa do Centenário de José Saramago que se comemora este ano. O que talvez pareça menos óbvio é considerar que a chamada “Geografia Saramaguiana” constitui um componente extremamente sugestivo da valorização da leitura e da releitura de Saramago, no contexto do seu Centenário.
Essa deambulação deixaria nele um misto de crónica, narrativa e recordações.
Esses caminhos trouxeram-no até nós:
“De Ovar ao Furadouro são cinco quilómetros por uma estrada que vai a direito, como se quisesse lançar-se ao mar. Aqui a praia é um areal sem fim, encrespado de dunas para o sul, e a luz é um cristal fulgurante, que no entanto, providência deste tempo invernal, se mantém nos limites do suportável. A esta mesma hora, no Verão, cegam-se aqui os olhos com as múltiplas reverberações do mar e da areia. Agora o viajante passeia na praia como se estivesse na aurora do mundo. É um momento solene”.
No lançamento da reedição da “Viagem a Portugal”, obra datada da década de 80, do século passado, onde Saramago explica que “viajar não é fazer turismo”, o retrato do Nobel ao nosso País impõe-se como uma obra a reler face ao “momento de massificação do turismo”. (Porto Editora)
Por seu lado, o Turismo de Portugal reuniu profissionais da área do turismo e da cultura para discutir o valor do turismo literário na última edição da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, a maior feira nacional de turismo (Turismo de Portugal, 2022).
No ano anterior, no âmbito das comemorações do centenário de José Saramago, o Turismo de Portugal, em parceria com a Fundação José Saramago, já havia divulgado os percursos de Saramago na Viagem a Portugal, numa iniciativa intitulada “Viagem a Portugal Revisited”. Esta iniciativa visou promover o país através de obras literárias, autores, percursos, casas de autores, bibliotecas e livrarias, convidando os leitores a percorrerem os caminhos outrora percorridos por Saramago (Fugas & Lusa, 2021).
Há ainda uma série televisiva cuja produção passou por Ovar, que estreou em outubro para que o último episódio vá para o ar perto do dia 16 de novembro, dia do nascimento de José Saramago. Serão 100 anos.
Este é um programa que se enquadra nas comemorações do centenário do nascimento de José Saramago e assinala também a reedição da obra editada exatamente há 40 anos, que surge agora com uma edição especial, que inclui imagens inéditas recolhidas pelo próprio autor, José Saramago.
Nesta série documental de 6 episódios viajamos sempre na companhia de Fábio Porchat e com a frescura de um olhar irmão do outro lado do Atlântico sobre as deambulações de um Nobel português na sua terra.
Segundo o autor, ”o fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite… É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos”.
Fábio Porchat quase se apaixona em Ovar, emociona-se em Aveiro, descobre um novo talento em Ílhavo, discute arte sacra com a avó em Oiã, delicia-se com uma reconstituição em Cantanhede, tira teimas entre Montemor-o-Velho e Maiorca, volta a deliciar-se em Tentúgal, filosofa em Coimbra e almoça com alguém que aprecia carapaus à espanhola. E mais umas quantas paragens que não cabem nestas linhas.