Opinião

Nadar, pedalar, correr e saltar – Ricardo Alves Lopes

Antes de mais, pretendo começar por afirmar que estive preso no trânsito e findei por desistir dos meus intentos de ir ao Furadouro, isto que se nota. Não me é oportuno para o texto, nem deixa de ser, simplesmente é um facto.

Após esta declaração de interesses, permitam-me dizer que não podemos ser demagogos. Cansam-me alguns estoicismos, de quem não sabe o que quer e acaba acorrentado às opiniões, demagogas, dos que vêm uma desgraça em tudo. Não é bom para quem segue acorrentado a essas opiniões vazias, incapazes de se alterarem conforme as situações, seguindo como pessoas sem prazeres na vida, que não a tristonha sentença de apontar erros alheios.

Claro que houve problemas no trânsito, claro que houve erros. Mas serei eu o único a saber que foi a primeira edição? Que saltem de trás dos comentários, à velho do restelo, todos os que acertam sempre e à primeira. É de uma demagogia que me enjoa. O nosso umbigo não pode ser maior do que o de uma autarquia inteira.

Existiram atletas internacionais e de muitas zonas do país, trouxeram famílias, equipas técnicas, amigos ou simpatizantes do triatlo, de todo o país e de Espanha. Mas o que discutimos é o nosso umbigo, a procura absoluta de apontar o dedo à organização? Isso não são críticas construtivas, até porque não li nenhuma alternativa digna na enxurrada de maldizentes que por aí andavam.

Sabiam que no Porto, em conjunto com a Optimus, cria-se um evento musical, pela cidade, que se dá pelo nome de D’bandada? Eu, pessoalmente, se fosse da invicta, não o suportaria. São milhares de pessoas do país todo na rua, estradas cortadas, um amadorismo que não se percebe. Seria tão simples a câmara do Porto organizar-se com a PSP para os ‘festivaleiros’ seguirem ordeiramente pelos passeios, em fila indiana e de mão dada, sem atrapalharem o trânsito. Outro evento que não suporto são as marchas em Lisboa. Aqueles amadores cortam estradas da cidade, em vez de arranjarem um descampado onde pudessem passear aquelas alegorias e coreografias. Um autêntico atentado ao civismo, o que eles fazem.

Percebem o que quero dizer? Qualquer obra bonita, antes de ser bonita, foi simplesmente obra, montes de entulho, baldes de massa, carradas de saibre. É preciso é construir, passar pela fase dos alicerces, para depois chegar aos edifícios. Do que nos vale estarmos sempre de mal com tudo? Nem para a saúde é bom. Este fim-de-semana estivemos presos no trânsito, mas nós, ordeiramente, explicámos que existiram alguns detalhes que podiam ser melhorados. A governação já demonstrou que está atenta ao que nós referimos que pode ser melhorado, porque motivo andaremos, então, sempre à procura de pequenas coisas que nos permitirão altivarmo-nos, apontando o dedo vaidosos, a coisas que simplesmente são más para nós?

O evento foi realizado, foi um sucesso, trouxe pessoas de várias zonas à nossa cidade e ganhámos um pouco mais de reconhecimento, desportivo e enquanto cidade. Fora isso, existiu uma iniciativa de salutar que se chamou “Á descoberta da Ecopista”, mas só falamos que domingo de manhã foi impossível passar para o Furadouro?

Poupem-me, sou orgulhoso na nossa cidade, não sou orgulhoso é de algumas pessoas. Nem tudo é política, também há interesses gerais. Uma pessoa que estimo, que tem um negócio de pão-de-ló, uma das imagens da cidade, agradeceu o serviço prestado com esta prova. Não existirão outros com agradecimentos a fazer?
Claro que a situação do trânsito poderia ter sido mais divulgada, que existiram coisas que podiam ter sido feitas de outra forma, mas é isso que fica?
Sim, é isso que fica para os velhos do restelo ou oportunistas. No restante, fica um nadar, pedalar, correr e saltar da cidade. Até porque só descobrimos os erros quando fazemos coisas. Se não fizermos nada, se não tomarmos decisões, não erramos. Mas também não somos felizes. Eu já escolhi o que desejo ser. Dos que erra, mas é feliz. E, para minha maior felicidade, Ovar escolheu o mesmo. Os do restelo que fiquem na margem, que um dia já não conseguirão nadar até ao ponto onde a cidade flutua.

Ricardo Alves Lopes (Ral)
http://tempestadideias.wordpress.com
[email protected]

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