[Mongólia/Ovar] Expectativas Cilindradas
Olho pela última vez as estepes geladas da Mongólia aproveitando os derradeiros raios de sol do dia em que tudo termina. Nestes momentos somos tentados a fazer balanços… Mas é impossível fazer uma síntese desta viagem que não deixasse de fora mil e uma histórias mais. Gostaria muito de ter escrito ao ritmo dos acontecimentos, mas o ritmo alucinante com que eles decorriam rapidamente me fizeram perceber que ou escrevia, ou vivia. Eu preferi viver e escrever depois.
Viajámos 15.000Km desde Portugal, pela meseta espanhola, pelos vales italianos, pelos bosques balcânicos, pela floresta romena, pelos campos búlgaros, pela costa verde turca, pelas serras georgianas, pela colinas arménias, pelo árido Azerbaijão, pelo deserto turcomeno, pelas planícies uzebeques, pelas estepes cazaques, pela longínqua Sibéria. Finalmente atravessámos meia Mongólia na mais desafiante, arriscada e solitária experiência em off-road até chegar ao nosso destino final, Ulan-Bator, 67h non stop onde aprendi qual o real significado de paciência.
Aconteceu de tudo um pouco. Atravessámos 38 postos fronteiriços com todos os entraves que possam imaginar. Suportámos dos tórridos 40°C turcomenos e os gélidos -23°C da noite mongol. Perdi a conta às vezes que levámos o nosso “tanque” ao mecânico. Embrenhámo-nos na complexa história do Cáucaso. Conhecemos a lendária Samarcanda – um dos meus três sonhos de viagem. Aprendi o que é vastidão nas planícies sem fim do Cazaquistão e a beleza de um céu estrelado no Gobi. Nadámos, caminhamos e dormimos ao relento nas margens do mítico Baikal – o meu segundo sonho. Conhecemos centenas de pessoas das mais variadas culturas e etnias que nos ensinaram que o que nos une é infinitamente superior às diferenças que nos separam. Superamos como pudémos as dificuldades físicas, psicólogas, mecânicas, meterológicas, burocráticas, económicas, linguísticas.
O meu terceiro e maior sonho, a Mongólia. So porquê, nunca soube ao certo, mas há muitos anos que sentia uma curiosidade inexplicável. Foi uma aventura constante aprender in situ a sua história, língua e alfabeto, as suas etnias, os seus hábitos, religião, superstições. A sua bravura. A sensação de ao fim de dois meses acordar e sentir que Ulaanbaatar, ali, entalada nas estepes asiáticas a 15.000Km de distância, é também a minha casa, é indescritível.
Os dois meses e meio de trabalho voluntário foram tb a oportunidade para ir mais a fundo numa sociedade que me era totalmente estranha, parar além de desempenhar un trabalho socialmente útil. Foi deveras gratificante trabalhar num hospital para sem abrigo e gente sem seguro de saúde, que demonstrando as insuficiências de um serviço de saúde a duas velocidades, me permitiu conhecer as faces mais escondidas da sociedade. De igual forma as consultas domiciliárias nas zonas pobres da cidade e periferia.
Ao organizar um check-up médico sistemático às crianças de um dormitório, em conjunto com a médica residente, consegui ter uma visão sobre a realidade da saúde infantil-juvenil. E finalmente fico feliz por ter participado nos eventos de doação de sangue que demonstraram a excelente organização do Banco de Sangue da Mongólia.
As expectativas não foram apenas superadas, elas foram sumamente cilindradas em três meses absolutamente alucinantes, em que até os piores e mais dramáticos momentos acabaram por descobrir novas e imprevisíveis oportunidades. Talvez o saber viajar esteja precisamente na capacidade de identificá-las, na audácia de aproveitá-las e na coragem de vivê-las. Diria que os maus momentos, o inesperado e o desconhecido são imprescindíveis para estilhaçar por completo os limites que nós mesmos nos impomos a abrir as portas para o mais além, e felizmente há sempre, sempre algo mais além.
баяртай Монгол!
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