Opinião

Momentos… Por Sérgio Lamarão Pereira

A noite está fria! O cheiro a terra húmida e fértil, a pedra molhada. O tempo que passa, o tempo que vai e vem e eu aqui a contemplar este magnífico cenário. A água cristalina que repousa formando um manto branco sobre a erva. As árvores despidas, o cheiro a fumo e a resina que sai das chaminés formando uma mistura suavemente aromatizada. Sinto-me neste instante.

Há muito tempo que não contemplava as estrelas. O meu olhar infinito que colide com a escuridão da noite, com a sua finitude. Esta exiguidade ou esta altivez face a um mundo que por vezes me é estranho e pouco humano. O ladrar dos cães, os vultos que passam e não os consigo acompanhar, uma sirene que me desperta e alerta.

O frio que se apodera de mim, entranhando-se nos ossos, nesta carne levemente perfumada. Cheiro a erva, a estrelas e flores. Cheiro a vida, a mundo, a incenso. Como é belo o som destas frases que escrevo, desta melodia que não ouço. Este orvalho nocturno que surge sem se apresentar. Este silêncio, este meu pequeno instante.

Sinto-me bem com esta brevidade! O corpo que se dilata, o suor e o amor. Magnífico o instante, onde mais nada parece existir. Esta nudez, esta altivez em toda a sua dimensão. O ar quente e volátil calmamente libertado por mim e que se mistura na invisibilidade da noite.

Estou aqui neste instante. O silêncio invade-me com uma espécie de estranheza, tornando-se por vezes agressivo. Uma certa melancolia e frieza perante este mundo frio e contundente. Este instante que tantas vezes presenciei, mas que agora tento compreender. Há muito tempo que tenho frio. Este perpétuo Inverno, este limite, este mundo, que não se sabe onde termina. Este barulho que não se ouve e me satura. A noite, certas noites em que o coração se dilata e os poros expelem um odor a adrenalina.

Sinto-me incompleto! Necessito do molde da areia, das ondas do mar que me vincam, das estrelas que me inspiram. Tenho pensamentos de homem livre nestas sociedades convencionadas por todos, menos por mim! Tenho aquilo que a vida me dá!

Olho para o céu à espera que me responda. Este mundo está louco e as pessoas parecem andar em ziguezagues. Por vezes vamos caminhando sem sabermos para onde nos dirigimos. Todavia, com a certeza de onde estivemos. Tenta-se ir tão longe a vida toda. Contudo, quem anda em círculos não pode chegar ao fim.

A fuga desta angústia e deste medo existencial irá dar lugar a um novo tipo de Homem.

Sérgio Lamarão Pereira
Ovar
02.12.2020

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