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Manuel Freire, um cantor de Abril

Cantor nasceu no dia 25 de Abril de 1942

Manuel Freire nasceu a 25 de abril de 1942 e é uma das figuras de proa de uma geração de músicos de intervenção que cantou a Revolução dos Cravos.

Muitos pensarão que nasceu em Ovar, mas não. Nasceu em Vagos. Circunstância ditada pelo facto dos pais serem professores primários e estarem lá colocados. Tinha apenas três anos quando se instalou com os pais em Ovar, terra natal da mãe.

Sempre que lhe perguntam qual é a sua terra, responde “Ovar. É a minha terra, sim. Foi lá que andei na escola, no colégio, foi lá que aprendi a nadar, a tocar guitarra”.

Aos 12 ou 13 anos, o pai decidiu dar-lhe uma viola porque andava sempre a cantarolar por casa coisas que aprendia na rádio. Canções brasileiras e francesas. “Então o meu pai comprou uma viola usada a um primo nosso, um sobrinho dele, e ele deu-ma. E ensinou-me o que sabia, que era pouco…”, conta em recente entrevista ao DN.

Foi para a universidade de Coimbra, passou pelo Colégio Militar. Quando o pai morre, regressa a Ovar. Candidata-se à empresa F. Ramada, onde desempenhou o cargo de operador informático, coordenador, analista, e nos últimos anos chefe do centro, onde dirigia mais de 30 pessoas.

Um dia, estava em Ovar a cantar com uns amigos e um primo seu tinha levado um amigo, Miguel Oliveira, que já tinha feito umas cantigas até para a Amália. Ele perguntou-lhe: “Então você não gostava de gravar um disco?” Ficou de falar com um outro amigo em Lisboa, que era o Jorge Costa Pinto. E lá gravou o disco “Livre” (“Não Há Machado Que Corte”) – Editado em 1968, este disco contém ainda “Dedicatória”, “Pedro Soldado” e “Eles”.

Após uma participação no programa “Zip Zip”, na RTP, em que interpreta uma canção com o poema de António Gedeão, “Pedra Filosofal”, obtém um êxito quase imediato.

Começa a musicar poemas de grandes poetas portugueses e edita um álbum homónimo com 11 canções. Os poetas deste disco são Gedeão, José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Olímpio, Sidónio Muralha e José Saramago.

As músicas são quase todas de Freire , à excepção de duas que são de M. Jorge Veloso. Com este disco ganha o Prémio da Casa da Imprensa e o Prémio Pozal Domingues. É neste LP que estão os temas “Abaixo D. Quixote”, “A Menina Bexigosa”, ou “Poema da Malta das Naus”.

A seguir ao 25 de Abril de 74, Manuel Freire dedica-se aos recitais, um pouco por todo o país, actuando sobretudo em Associações Recreativas e Culturais, onde mantém um público fiel. A limpidez da sua voz, a pronúncia correcta e o facto das suas músicas serem acompanhadas por excelentes poemas contribuem para o seu reconhecimento público.

Só em 1978, Manuel Freire voltará a gravar outro disco, intitulado “Devolta”. Nele, o cantor volta a musicar poemas de grandes poetas portugueses. Este disco contará com a colaboração de Luís Cília; outro cantor de intervenção, entretanto retirado das lides.

Nos anos 1980, divorcia-se e muda-se para Vieira de Leiria onde se emprega na fábrica de limas de Tomé Feiteira. Foi gravando sempre discos e acompanhando Jacques Brel, seu predilecto. No Brasil admirava Dalva de Oliveira, Jair Rodrigues, Elis Regina.

Em 1993, a Strauss reedita em CD o disco que contém a “Pedra Filosofal”. Esta reedição contém uma nova versão do mesmo tema, gravado com novo acompanhamento e que dura mais de 6 minutos.

Em 1995, actua na Quinta da Atalaia (Seixal), num espectáculo que abre a Festa do Avante e homenageia Adriano Correia de Oliveira. Neste espectáculo, Manuel Freire é acompanhado pela Brigada Victor Jara.

Em 1999, no CD “As Canções Possíveis”, onde Manuel Freire canta poemas de José Saramago, numa edição da Editorial Caminho (editora de Saramago). Neste disco, com 12 canções, Manuel Freire é acompanhado por um grupo de músicos tocando violino, piano, contrabaixo, clarinete e violoncelo. Este álbum, recentemente editado, pertence à colecção Caminho de Abril que a editora lançou para comemorar os 25 anos do 25 de Abril.

Em 2003, é eleito presidente da Sociedade Portuguesa de Aurores (SPA), ao lado de José Jorge Letria (vice-presidente da direcção) José Niza e Mário Mesquita (assembleia geral) e Álvaro Salazar (conselho fiscal).

Vendido no dia 1 de Maio de 2006, com o jornal “Público”, Manuel Freire junta-se a Vitorino e José Jorge Letria no disco “Abril, Abrilzinho”. Três memórias, três vivências e três percursos num disco que fala de Abril aos mais novos, para que saibam um pouco melhor o que foi, o que ajudou a mudar e as emoções e esperanças que desencadeou e que, entretanto, se fizeram História.

Em 2014, “Manuel Freire ‎– canta Versos Diversos de Vitorino Nemésio” e em 2018, celebrou 50 anos na música com um concerto no Fórum Lisboa.

A sua voz bem timbrada, o rigor selectivo ao escolher os poetas que canta aliado ao grande poder de comunicação fazem dele um artista muito querido que, certamente, marcou várias gerações.

“Dulcineia”, ” Pedra Filosofal”, “Livre” e tantas outras canções que ele tão bem interpreta fazem já parte da nossa história.

 

Onde estava no 25 de Abril de 1974?
Estava em casa. Fui acordado por um telefonema de um amigo a mandar-me ouvir a rádio, que tinha acontecido qualquer coisa em Lisboa. Levei o rádio para o escritório. Nesse tempo eu vivia mesmo por trás da fábrica, o que era uma chatice porque sempre que havia alguma coisa o guarda ia bater-me à porta… e desde esse dia nunca mais deixei de ter um rádio no trabalho. Fui acompanhando as notícias. À noite reunimos os amigos todos em minha casa e distribuímo-nos em postos de escuta. Alguns ouviam a BBC, outros o rádio português de Miramar, e na sala fazíamos daquilo um posto de comando e íamos trocando informações. Quando já tínhamos a coisa mais ou menos definida, era quase meia-noite e toca o telefone. Por acaso fui eu a atender. Era o meu irmão. Que só me perguntou: “Então pá, gostaste da prenda?” Ele também estava metido no golpe.

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