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Luís Pereira já ganhou só por ter sido nomeado para os Globos de Ouro

Não ganhou, mas ter sido nomeado pela primeira vez para Personalidade do Ano na categoria de Moda foi “uma surpresa inesperada e, desde logo, um enorme reconhecimento”. Foi também um ato de justiça, porque o Luís contribui entusiástica e incansavelmente, há uma vida e ano após ano, para o crescimento e renovação constantes da moda e dos seus bastidores em Portugal.

Foi, pois, um reconhecimento mais do que merecido pelo seu trabalho árduo, de paixão e visão inovadora que imprime no mundo da moda (e na Showpress). “Embora não tenha trazido o prémio para casa, estou profundamente agradecido por ter estado nomeado ao lado de talentos tão inspiradores. Agora é tempo de continuar a crescer e a contribuir para este setor que tanto amo”, comentou na noite do certame.

O galardão seria entregue a José Manuel Gonçalves que subiu ao palco do Coliseu para receber o prémio em seu nome e no de Manuel Alves, que morreu no dia 14 de maio, aos 73 anos, na sequência de uma doença oncológica.

Para os que não sabem, Luís Pereira cresceu em Ovar e ainda mantém família na cidade vareira, mas o apelo da moda falou sempre mais alto.

Entrevista com Luis Pereira, fundador da Showpress e Coordenador dos bastidores da ModaLisboa e do Portugal Fashion. A entrevista decorreu no local onde está a ser contruida o novo espaço para a ModaLisboa, no Hub Criativo do Beato. 24 de Fevereiro de 2022 Hub CrIativo do Beato, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
Foto: Tomás Silva

Nasceu em Angola e quando os pais regressaram a Portugal, tinha ele apenas 10 anos, acompanhou-os. Por cá, repartiu-se entre Ovar e São João da Madeira, em casa dos avós. O pai geria um dos primeiros restaurantes vareiros do pós-25 de abril, o “Caçarola” de boa memória, no local onde hoje se encontra o “Twelve” café.

D.R.

Aos 17 anos, o Luís foi viver para o Porto. Ficou lá até aos 23, fez a tropa em Lisboa, onde começou a desfilar e regressou ao Porto. Mas continuou sempre ligado à moda. Trabalhava com designers em lojas de design no Porto, onde era manequim ao mesmo tempo. Toda a gente lhe dizia: “com a tua altura e com a tua cara podias ser manequim”. Começou a produzir e coordenar desfiles de moda, porque o convidavam para manequim e também para organizar os bastidores. A partir daí, passou a ser assistente de coreógrafos [de moda] que eram concorrentes uns dos outros.

Corria a década de 1980, e enquanto estava no Porto era visita frequente dos pais em Ovar, onde era visto muitas vezes e tinha muitos amigos. Depois de mudar-se para Lisboa, passou a ser mais difícil vê-lo por cá, mas há muitos vareiros que ainda se lembram do Luís que morava perto do “Racing”.
Dedicou-se a descobrir coisas portuguesas que, se calhar o mundo precisa de conhecer, trabalhar mais as marcas portuguesas, os designers e artistas. Tem um monte no Alentejo há vários anos, onde se refugia para carrega baterias.
Depois da carreira de modelo, criou uma agência de comunicação, e há anos que é o homem forte do ModaLisboa cuja edição deste ano aconteceu muito recentemente.
A sua ligação à ModaLisboa começa em 1991. Pouco depois parou [em 1993], devido a desentendimentos por causa da vinda do [John] Galliano. Quando recomeçou [em 1996] já foi com outro formato, com tecnologia e, nessa altura, o Luís começou a organizar a parte de bastidores. “Era tudo um começo da moda em Portugal. Não havia agências de manequins, ateliers… começou tudo a partir daí. Na altura, fazia parte da equipa de bastidores, trabalhava muito”.
Mais tarde, convidam-no para fazer a direção de casting e hoje organiza os bastidores, faz a gestão da parte de desfiles e a direção de casting. Luis Pereira é CEO da ShowPress – Agência de comunicação e PR, Produtor, diretor de casting da ModaLisboa e chefe de bastidores no Portugal Fashion e ModaLisboa.
D.R.

Os muitos anos que leva de observação de modelos desenvolveram um olho clínico que faz com que não precise de mais de 20 ou 30 segundos para perceber o potencial de um candidato. “Muitos chegam aqui sem saber andar, ou chegam aqui com um corpo descuidado. Mas o que noto mais é que à maioria dos novos candidatos falta atitude”. Quando diz atitude, Luís Pereira fala da determinação que alguém que quer ser manequim tem de ter para chegar a algum lado, ou ser relevante na moda. “Se não sabem andar, pratiquem, pratiquem durante horas em frente ao espelho lá de casa, vejam vídeos de manequins internacionais e tentem fazer igual”.

Foi a sua postura na vida e no trabalho que fez com que Luís se tornasse um nome incontornável no panorama nacional agora reconhecido, muito embora prefira estar longe dos holofotes.

Conheceu de perto a era das “Super-Models”: Trabalhou com a Claudia Schiffer no Portugal Fashion. Com a Carla Bruni. Com a Eva Herzigova. Quando esta veio a Portugal, os designers não tinham sapatos para ela (calçava 41/42) e teve desfiles em que foi descalça ou com sapatos de homem. “A Linda Evangelista, quando já não estava assim tão bem, a roupa dos designers portugueses não lhe servia. Eu sempre adorei a Linda Evangelista, foi aquela musa que mudava a cada fotografia. Não veio para os desfiles, foi para uma gala num programa de televisão na Sic. Algumas pessoas não a reconheceram”.
Três perguntas a Luís Pereira:
O que faz um homem ser elegante? Ser discreto, com sentido do humor, boa educação e saber estar elegante em qualquer situação.
Quais são as peças imprescindíveis no guarda-roupa? Um fato preto, camisa branca, jeans sem lavagem, sapatos clássicos, t-shirts brancas entre outras peças.
“Role models” no que toca à elegância masculina? Robert Redford, Tom Ford e Jude law.
*Por Gentleman

O Luís Pereira não ganhou este ano mas, numa das próximas edições, ele vai mesmo acabar por levar o Globo de Ouro para casa.

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