Karine Lima à conversa com o “fratuguês” José Cruz
A luso-desendente vareira, Karine Lima, muito popular na TV francesa, esteve à conversa com o ator também luso-descendente, José Cruz, que anunciou o seu novo espetáculo de humor com o qual vai partir em digressão em França, com o título “Portugal, Voyage au Centre du Monde”.
Nascido em França e filho de pais portugueses, José Cruz estudou teatro na École Claude Mathieu, em Paris, e define-se como “Frantugais”.
Começou a sua carreira no teatro clássico, mas a vontade de criar os seus textos rapidamente o levou para produções próprias.
José Cruz rejeita o rótulo de ‘standup’ e define o seu estilo de espétaculo como “One Man Show”, em que, com humor, oscilando entre as suas experiências pessoais de quem vive entre duas culturas e uma personagem criada para o palco, vai partilhando episódios da vida quotidiana, assim como os seus sonhos e aspirações. Mas não deixa de lado os preconceitos que existem em relação às suas origens.
“As pessoas fazem piadas sobre os portugueses, os portugueses não fazem muitas piadas sobre os outros porque não queremos fazer barulho aqui em França, não queremos ser o centro das atenções. Mas eu queria, e a melhor maneira de se lutar contra os preconceitos é de se apropriar das piadas”, afirmou o ator, que diz que a sua plateia é composta 60% por franceses e 40% por portugueses e luso-descendentes.
Para o artista, a associação óbvia que de que os portugueses trabalham nas obras e limpam as casas em França tem uma razão de ser, “porque eram os primeiros trabalhos que os portugueses podiam fazer quando chegavam a França sem saber falar a língua”, algo que, na sua opinião, a comunidade não deve esquecer.
“Esta é uma realidade que temos de aceitar e, se não falarmos disso, as próximas gerações vão esquecer de onde vêm e podemos acabar como os descendentes de polacos ou italianos aqui em França, que ainda têm o nome da sua origem, mas já não têm nenhuma ligação a esses países. E, infelizmente, são essas pessoas que hoje fazem parte de partidos como o Rassemblement National”, insistiu o ator, mostrando-se preocupado com a dominância da extrema-direita nas comunidades de imigrantes em França.
Assumindo-se como “fratuguês”, José Cruz tinha deixado a língua portuguesa de lado no início da sua carreira, mas foi o seu primeiro espétaculo “Olá!” que o levou a recuperar contacto com a língua de Camões, depois de um convite para uma digressão em Portugal. “Em 2010, recebo um telefonema de Lisboa a perguntar se quero ir fazer o meu espectáculo a Portugal, mas em português. Aceitei o desafio e o resto é história”.