Agora que a obra de requalificação da envolvente à estação da CP chegou à sua fase final, com trabalhos a decorrer precisamente na frontaria do imóvel, chegou a hora de verificarmos em que ponto se encontra a sua preservação. E falar neste edifício é falar necessariamente nos seus azulejos, verdadeiras joias do património azulejar vareiro.
Francisco Pereira e Licínio Pinto executaram, em 1918, na Fábrica da Fonte Nova de Aveiro, um conjunto de vinte e três painéis de azulejos para a estação de Ovar, mas 1980 é a data dos painéis existentes na gare, cópias feitas no Atelier Razamonte de Vila Nova de Gaia, incluindo algumas representações de locomotivas.
O que poucos sabem é que estes azulejos chegaram a estar condenados e a Junta de Turismo de Ovar conseguiu não só provocar o restauro do edifício, mas ainda evitar que se perdessem para sempre estas joias artísticas da azulejaria ovarense.
O único que saiu de Ovar, e que representa uma ponte ferroviária – Pego, Macinhata da Seixa, Oliveira de Azeméis , foi entregue à CP, de acordo com o pedido feito por esta em carta de 18/12/1978, quando era preciso tomar uma decisão definitiva, por se terem já iniciado as obras de restauro da estação.
Para substituir os painéis removidos, a Junta de Turismo ovarense encomendou novos motivos pictóricos originais à pintora vareira Beatriz Campos, que aceitou orgulhamente o encargo, entregando os trabalhos para serem passados ao azulejo.
Lá estão, de facto, na gare da estação de Ovar, as reproduções dessas pinturas, mas com um senão: não consta nelas o nome da sua autora. É que, embora a um leigo na matéria tudo pareça estar perfeito, à artista não passaram despercebidos graves deficiências. E de tal forma ela sentiu a ofensa que proibiu que nesses registos figurasse a sua assinatura.
Já em 1917, com os antigos painéis, surgira um problema idêntico, com a curiosidade de também se relacionar com artistas vareiros – Ricardo Ribeiro e seu filho António –, cujos trabalhos fotográficos, considerados de grande perfeição, terão sido também prejudicados com a transposição para o azulejo.
Isso mesmo surge referido no texto “Azulejos da Fonte Nova”, publicado pelo historiador aveirense Marques Gomes no “Campeão das Províncias” de 21/7/1917, transcrito no “Litoral” de 28/2/1986, na secção “Arca de Antiguidades”, de Humberto Leitão.
Permanece ainda à vista na fachada poente da Estação de Ovar, no Largo Serpa Pinto, metade dos antigos azulejos fabricados na Fonte Nova (Fábrica Aleluia), em 1917.
Os painéis de azulejo da estação de comboios de Ovar seriam eventualmente restaurados pela autarquia, pela Rede Ferroviária Nacional (REFER) e pela Universidade Católica, que anunciaram vontade de preservar um património secular assinado por “grandes artistas” à entrada da cidade.
“São painéis de grande valor artístico e histórico porque foram pintados entre 1917 e 1919 por figuras muito conhecidas do azulejo, como Licínio Pinto e Francisco Pereira, que trabalhavam na fábrica Fonte Nova e se inspiraram nos cenários campestres das fotografias de Ricardo Ribeiro e António Ribeiro”, descreveu Isabel Ferreira, a técnica da ACRA aquando da intervenção de 2015.
“Estão bastante danificados devido à sua exposição, não só porque são sujeitos às emissões do tráfego, mas também porque as pessoas lhes encostam motos, bicicletas, etc., pelo que agora apresentam muitas fissuras, compressões escuras, microrganismos, estragos no vidrado e uma série de outros problemas”, explicou a responsável.
PAINÉIS:
DISPOSIÇÃO NO EDIFÍCIO:
24 composições azulejares (14 painéis na fachada principal e 10 na fachada voltada para o cais);
numa das fachadas laterais existem azulejos padronados.
TEMAS REPRESENTADOS NOS PAINÉIS:
Fachada principal (da esquerda para a direita)
– “Ovar – Açude do Casal” (14×12)
– “Aldeia e Capela de S. Donato” (14×12)
– “Arredores de Ovar” (14×12)
– “Arredores de Ovar”
– “Estrada do Furadouro no Carregal – Ovar” (8×12)
– “O Rio da Madria – Ovar” (8×12)
– “Paisagem Vareira” (7×12)
– “Arredores de Ovar” (7×12)
– “Arredores de Ovar – Madria” (7×12)
– “Arredores de Ovar” (8×12)
– “Rio e Ponte do Casal” (7×12)
– “O Lôpo da Madria – Ovar” (14×12)
– “Lavadeiras no Lôpo – Ovar” (14×12)
– “Moinhos nas Luzes – Ovar” (14×12)
Fachada voltada ao cais (da esquerda para a direita)
– “Paisagem Vareira” – com locomotiva século XX (8×12)*
– “Locomotiva Século XIX” (8×12)*
– “Chafariz da Praça – Ovar” (9×12)*
– “Barco do Mar – Furadouro – Ovar” (17×12)*
– “Vareira” (7×12)*
– “Guarda de Passagem de Nível” (7×12)*
– “Barcos da Ria – Ovar” (17×12)*
– “Capela do Calvário – Ovar” (9×12)*
– “Locomotiva Século XX” (8×12)*
– “Arredores de Ovar” – com locomotiva século XX (9×12) *
CARACTERÍSTICAS PARTICULARES DOS PAINÉIS:
– A maioria dos painéis são reproduções de clichés fotográficos dos fotógrafos Ricardo e
António Ribeiro (pai e filho).
– Apenas os 14 painéis da fachada principal são de 1917/1919; os painéis da fachada (*) voltada ao cais são todos datados de 1980.
Fontes consultadas: -http://noticiasdeovar.blogspot.com/2009/01/jias-de-azulejaria-na-estao-de-ovar.html -https://www.infraestruturasdeportugal.pt/pt-pt/centro-de-imprensa/preservacao-de-patrimonio-reabilitacao-e-restauro-de-paineis-azulejares -http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=26688https://run.unl.pt/bitstream/10362/14575/2/Postais%20Azulejados%20%28Tiago%20Borges%20Louren%C3%A7o%29%20volume2.pdf