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Investigadores da UA descobrem novas espécies de calêndula no norte de África

Investigadores da Universidade de Aveiro (UA), em colaboração com equipas de outras instituições,
descobriram duas novas espécies e oito novas subespécies de planta, neste caso, de calêndula, em várias zonas do norte de África. Os estudos desenrolaram-se ao longo de vários anos, os trabalhos de campo começaram em 2009, na Tunísia, e os resultados foram divulgados recentemente.

A descoberta das novas espécies e subespécies foi feita em momentos distintos. Em alguns casos, os investigadores aperceberam-se que se trataria de novas espécies e subespécies durante os trabalhos de campo, ao visitar as respetivas populações, explica Paulo Silveira, professor do Departamento de Biologia da UA que coordenou os estudos. Noutros casos, acrescenta, foi durante o estudo dos espécimes no herbário depois de visitar as populações das plantas ou, mais raramente, ainda antes dessa visita, porque muitos espécimes
colhidos por outros botânicos não continham os frutos necessários para a identificação e caracterização segura destas plantas.

Os trabalhos de campo decorreram na Tunísia, em abril de 2009, em Marrocos (abril de 2010, abril de 2011, junho de 2012, março de 2013) e, na Argélia, em maio de 2014. O trabalho laboratorial foi realizado no Laboratório de Botânica e no Herbário da Universidade de Aveiro. Nas primeiras expedições, Paulo
Silveira trabalhou só. A partir de junho 2012, a doutoranda Ana Carla Gonçalves passou a participar no âmbito da revisão taxonómica do género e realizada no âmbito do seu doutoramento sob orientação de Paulo Silveira.

Embora a divulgação mais recente deste longo trabalho seja de 2023, o docente e investigador explica que, normalmente, não se divulga uma espécie nova logo depois de ser descoberta, mas sim, apenas depois de estar devidamente estudada e publicada, sendo ambas tarefas demoradas. Até à publicação dos resultados, há que manter reserva.

A importância do trabalho de campo
Nem todas estas espécies são próprias de montanha, embora a maioria o seja: desde as montanhas Tazekka, no Atlas Médio, passando pelo Rif e Bokoya, em Marrocos, até Djurjura, na Argélia. A Calendula suffruticosa subsp. boccoyana, por exemplo, embora tenha ficado com o nome das montanhas Bokoya, pode surgir a altitudes relativamente baixas, em recifes costeiros. “Foi muito importante contactar com a variabilidade morfológica das plantas do género Calendula no campo, pois há variações que ocorrem dentro de certas populações que não são relevantes taxonomicamente e complicam a análise se o estudo for feito apenas no herbário, em que os espécimes estão fora do contexto da respetiva população de onde foram retirados”, assinala Paulo
Silveira. “Na maioria dos casos as diferenças são subtis, sobretudo no caso das novas subespécies”, afirma.

O investigador considera que a principal razão de ainda não terem sido descobertas antes, ou publicadas como novas espécies ou subespécies, tem a ver com a dificuldade de perceção, até então, do papel dos aquénios – tipo de fruto normalmente seco, com origem em um ou mais carpelos, que não se abre espontaneamente, contendo, tipicamente, uma semente – na taxonomia (classificação científica) do género, havendo muitos espécimes de herbário que não continham esses frutos e, por isso, não eram identificáveis. Paulo Silveira acrescenta ainda que, antes, havia também lacunas de trabalho de campo na região.

Os estudos desenrolaram-se no âmbito dos projetos do Centro de Estudos do
Ambiente e do Mar (CESAM) – FCT/MCTES
UIDP/50017/2020+UIDB/50017/2020 através de fundos nacionais -, envolvendo
a bolsa de doutoramento da Ana Carla Gonçalves da FCT/UNESCO
(SFRH/BD/51464/2011) e com financiamento do programa europeu
SYNTHESYS, que tornou possível visitas a herbários em Londres. O trabalho
até agora desenvolvido sobre a taxonomia e cariosistemática do género
Calendula resultou na publicação de dois capítulos de livros internacionais e seis
artigos em revistas indexadas, envolvendo não só um doutoramento (de Ana
Carla Gonçalves), como dois mestrados (Sofia Nora e Inês Simão). A
cariosistemática é um ramo da sistemática (classificação científica dos seres
vivos) que procura determinar relações naturais entre taxa através do estudo de
cariótipos (conjunto de cromossomos presentes em um indivíduo).
As parcerias também foram várias, ao longo dos anos e diferentes contextos,
mas, no que teve implicações taxonómicas, destacam-se as encetadas com os
botânicos dos países visitados, tais como os professores Ahmed Ouhammoud,
em Marrocos (Marraquexe), Rachid Amirouche, em Argel (Argélia), e em
Portugal: Estrela Figueiredo, presentemente na Universidade Nelson Mandela
(Africa do Sul), Leonor Morais do Instituto Superior Técnico (ISA, Lisboa),
Helena Oliveira, também do CESAM/DBio, João Loureiro e Silvia Castro –
ambos, antigos alunos da UA, atualmente professores na Universidade de
Coimbra -, e contou com a colaboração do professor Jorge Paiva, investigador
aposentado dessa mesma universidade.

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