Hospital de Ovar: Apelo ao protesto – Por Vitor Amaral
A saúde não tem partidos. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) deve estar disponível de igual forma para todos, independentemente das cores partidárias e dos interesses da política e dos políticos. O SNS, uma das principais conquistas de abril, tem a obrigação de proporcionar os melhores serviços de saúde e isso não inclui apenas os melhores hospitais ou centros de saúde, os melhores médicos, os melhores enfermeiros; inclui também a proximidade, de forma a proporcionar o menor desconforto possível a quem, por forças da circunstância de estar doente, está debilitado e necessita de chegar tão rápido quanto possível ao local onde deverá ser consultado ou tratado.
Todos aspiramos a ter o melhor hospital, os melhores clínicos, à nossa porta; mas não é isso que os vareiros reclamam há vários anos. Eles apenas pretendem e merecem ser tratados como cidadãos de um estado que tem como princípio constitucional a garantia do acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação.
Poder-se-á questionar como é que se alcança a violação deste princípio com a decisão do hospital de referência passar a ser o de Aveiro. Mas só os mal-intencionados ou que tenham uma ideia formada por interesses políticos, pessoais, ou outros, é que não perceberão o que é mandar um doente de Esmoriz ou de um lugar de Arada, a menos de 3 Km do Hospital de Santa Maria da Feira, para um hospital que fica a mais de 40km de distância e a mais de uma hora de viagem, se não quiser ou não puder gastar o dinheiro das excessivas e caras portagens até Aveiro. Quem está doente encontra-se num absoluto estado de sujeição, mas o que o Governo da República está a fazer com a decisão agora tomada, passa para o campo da tortura psicológica, do massacre físico, do assalto à bolsa dos utentes, de mandar às malvas o interesse dos vareiros. E manda-o às malvas, porque não lhe deu ouvidos, apesar das sucessivas promessas, algumas das quais feitas pessoalmente a mim e a quem me acompanhava (sem desconsideração para os outros, um deles era o Padre Bastos), pela Secretária de Estado da Saúde, numa altura em que estava ativo o Movimento em Prol da Saúde de Ovar, do qual fiz parte e que sempre defendeu mais valências para o Hospital de Ovar, obras no bloco operatório, serviço de urgências (pelo menos o básico ou até às 24H), referência ao Hospital de Santa Maria da Feira, etc.
Fiz parte desse movimento que, infelizmente, de moribundo passou a desparecido, muito antes da minha incursão pela política e acima de qualquer interesse pessoal ou político. Movia-me, tal como hoje me move, o acesso aos serviços públicos de saúde de todos os vareiros, nos quais me incluo e à minha família. Só por isso, decidi sair do anonimato político dos últimos quase 4 anos, para juntar a minha voz à voz de quem, desinteressadamente, está ao lado do interesse do povo vareiro na causa da saúde, sem demagogias, sem pedir a cabeça de ninguém… Apenas peço que a cabeça de quem decide saiba decidir, tendo em consideração a vontade dos cidadãos do concelho de Ovar e não os interesses e arranjos políticos por amizade ou por qualquer outra razão, que não seja a do interesse comum.
Foi pena o referido Movimento ter desaparecido, mas isso não invalida que os cidadãos criem um movimento de revolta e se revoltem, no sentido pleno da palavra, contra a decisão do governo. Integrarei esse movimento popular da mesma forma que integrei o que já existiu e que era composto por poucos elementos: desinteressadamente; mas também e só se for um movimento suprapartidário e que não sirva para políticos ou potenciais futuros políticos, se coloquem em bicos de pés à custa de uma causa que a todos diz respeito, porque todos ou já fomos doentes, ou estaremos um dia doentes, ou já tivemos (temos) familiares doentes. Tal como iniciei, concluo: a saúde não tem partidos!
São várias as formas de manifestação do nosso descontentamento. Em primeiro lugar, devemos exigir aos políticos que nos representam, quer nas Assembleias de Freguesia, Juntas de Freguesia, Assembleia Municipal ou no executivo camarário, que sejam porta-vozes do descontentamento da população e que reivindiquem a reversão da medida que terá sido já tomada. Querendo, têm fundamentos mais do que válidos. Em segundo lugar, a população pode e deve manifestar-se frente ao Ministério da Saúde e Assembleia da República, reiterando e reforçando o que lhes terá sido transmitido pelo poder local. Em terceiro lugar, é importante ter a opinião pública do lado da população vareira e, para isso, tem de ser explicado o quanto errada é a decisão do governo e a forma objetiva e clara como a prejudica, fazendo todos os possíveis para chegar à comunicação social. E outras medidas poderão ser adotadas… tantas, até se conseguir vencer, que é o mesmo que dizer, alterar a tresloucada decisão do governo.
Vitor Amaral, ex-vereador do PS e presidente da APEGAC – Associação Portuguesa das Empresas de Gestão e Administração de Condomínios