“Fomos todos precisos para socorrer a nossa comunidade”
O comandante João Mesquita completa três anos à frente dos Bombeiros de Ovar, que estão a assinalar o seu 125.º aniversário, um ano depois da única quarentena geográfica do país.
Lembra-se do primeiro contacto com uma informação relativa à COVID-19?
João Mesquita: Lembro-me de ter ouvido o que se passava na China e, depois, por altura do Carnaval, o que estava a acontecer em Itália. Mas quando as coisas são lá fora, nem que seja aqui na fronteira, achamos que não nos toca. Mas pouco depois bateu-nos à porta. O nosso primeiro contacto com a doença aconteceu no dia 17 de Março, quando recebemos um pedido de socorro, logo de manhã. Uma chamada normal, através do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), para uma doença súbita, só que quando a equipa chegou ao local, deparou-se com um doente com toda a sintomatologia de COVID-19. Informado o CODU, a equipa foi impedida de mexer no tal doente, porque havia uma equipa especializada do INEM para o recolher. Na prática, isso levantou vários problemas. Foi preciso enviar outra ambulância alegadamente específica, mas enquanto esta não chegava, o doente continuava a precisar de assistência que não deixou de ser dada. Mas a questão é que enquanto um meio e uma equipa estão num local, outro socorro está à espera. A partir desse dia, nunca mais parou. A torrente de notícias causou muita ansiedade na população e isso provocou muitas chamadas, muitos pedidos de socorro. Qualquer sintoma passou a ser valorizado. Tivemos de adequar um plano de contingência muito depressa. Depois havia muita informação, quer da DGS, quer de outras entidades, sobre como fazer, procedimentos, e isso obrigou-nos a ter muita abertura e muita capacidade de resposta. Tive de dizer ao INEM que em qualquer situação de COVID-19 que nos chegasse, atendendo ao elevado número de casos que tínhamos em Ovar, não era possível estar à espera da referenciação deles e resolveu-se.
O cordão sanitário obrigou a fazer muitas mudanças?
Não, porque antecipámo-nos. Quando a cerca sanitária se iniciou em Ovar, da nossa parte não houve nenhuma limitação, apenas a preocupação de que era preciso responder à nossa comunidade. A questão era que, se por algum motivo, todas as nossas ambulâncias estivessem ocupadas e fosse preciso pedir ajuda a uma corporação vizinha, será que eles vinham tendo em atenção que havia a ideia de que estávamos tão mal dentro do cerco? Mas não chegou a ser preciso, pois conseguimos dar sempre resposta e nunca foi preciso vir ninguém do exterior.