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Fernando Valente disse à juíza que se fosse o pai “seria um desgosto”

Bebé era “indesejado” pelo suspeito do homicídio

O bebé que estava prestes a nascer no ventre da grávida desaparecida da Murtosa há mais de um ano era “indesejado” pelo seu amante e provável pai, o empresário Fernando Valente, que foi recentemente acusado pelo MP do homicídio de Mónica Silva.

Fernando Valente foi o próprio a admitir a situação, que seria extensiva aos seus pais, aquando do interrogatório, pela juíza de instrução criminal de Aveiro, ao ser questionado sobre o que pensava se se confirmasse ser ele o pai do bebé de Mónica Silva.

Essas expressões assumem importância capital no processo, que será julgado por um Tribunal de Júri, em Aveiro, pois segundo a acusação do Ministério Público, o móbil do assassínio de Mónica Silva foi a “gravidez indesejada” pelo alegado pai do feto.

Fernando Valente referiu que se o bebé fosse seu filho, “não era uma criança desejada”, nem para si próprio, nem para os seus pais, Manuel Valente e Rosa Valente, pois a eventual paternidade, “poderia ser um desgosto”, para os supostos avós paternos.

Ainda acerca dessa mesma questão, o empresário murtoseiro utilizou outras expressões, tais como “seria uma dor de cabeça”, “não reagiria bem” e “não era a melhor notícia do mundo”, mas isto sempre negando a paternidade do bebé de Mónica Silva.

Mónica Silva, de 33 anos, saiu de casa, levando as ecografias da sua gravidez, na noite de 3 de outubro de 2023, alegadamente para se encontrar com Fernando Valente, num apartamento da Torreira, que terá sido o local do crime, segundo afirma o MP.

A grávida desde então desaparecida da Murtosa, disse aos filhos, então de 14 e 11 anos, que não demoraria mais de uma hora, mas nunca mais foi vista, sabendo-se que Mónica Silva, desejava muito ter aquele bebé, negando sempre a hipótese de abortar.

Fernando Valente já tem uma filha, de nove anos, fruto do seu casamento com uma farmacêutica do Porto, com quem esteve casado cinco anos, afirmando que, ao contrário, o nascimento dessa menina, gerado no matrimónio, esse sim, “foi desejado”.

Os telefonemas e mensagens do telemóvel “secreto” (modelo antigo que não deixaria “pegadas digitais”) de Fernando Valente e as passagens do telemóvel da vítima por antenas nessa noite até à Torreira até ao apartamento comprometerão o empresário.

A acusação do MP de Estarreja baseia-se ainda, em outros aspetos, nas contradições entre as primeiras entrevistas de Fernando Valente, a diversas estações televisivas, tendo afirmado que não estava pessoalmente com Mónica Silva desde janeiro de 2023.

Em mensagens de WhatsApp e de Messenger do Facebook, que terão sido apagadas por Fernando Valente, mas que a Polícia Judiciária de Aveiro, entretanto, recuperou, o empresário disse à irmã gémea, Sara Silva, que “já não vejo a Mónica há meses”.

Sara Silva, a 4 de outubro de 2023, dia seguinte ao desaparecimento de Mónica Silva, contactou Fernando Valente, através de mensagens, mas este disse-se surpreendido com a ausência de Mónica, pedindo a Sara que o avisasse se a grávida aparecesse.

O processo, que desde a acusação, proferida em 4 de novembro de 2024, deixou de estar em segredo de justiça, foi consultado já esta semana pelo OvarNews, tem como único arguido o empresário Fernando Valente, da Béstida, em Bunheiro, na Murtosa.

Filha do suspeito apercebeu-se de algo “esquisito”

A filha de Fernando Valente, criança atualmente de nove anos de idade, apercebeu-se de algo “esquisito” entre o pai e os avós paternos, durante a semana que passou na Murtosa, após desaparecimento de Mónica Silva, na noite de 3 de outubro de 2023.

A mãe da criança, farmacêutica no Porto, que está divorciada de Fernando Valente, o pai da menina, terá querido esclarecer o que se passara com Família Valente, porque, ao contrário do que era habitual, estariam todos “muito tristes”, o pai e os avós.

Manuel Valente e Rosa Valente, os pais do único acusado, Fernando Valente, tiveram os seus telefones sob escuta da Polícia Judiciária de Aveiro, desconfiando ambos, bem como a sua antiga nora, que já tinham os seus telemóveis controlados pela PJ.

A 16 de outubro de 2023, a ex-mulher de Fernando Valente telefonou a este, à data ainda meramente suspeito e em liberdade, tendo o empresário retorquindo: “claro que ela [a filha de ambos] se apercebeu de alguma coisa”, nos dias passados na Murtosa.

A ex-esposa de Fernando Valente deu ainda conta da sua preocupação com a associação do empresário ao desaparecimento de Mónica Silva, até pelas repercussões que podia ter para a filha de ambos, mas esperando que tudo se resolvesse rapidamente.

Joaquim Gomes

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