Estas Mãos embalam dezenas de bebés no Berço Solidário
Um fragmento da manjedoura de madeira que serviu de berço a Jesus Cristo, relíquia de importância crucial para os cristãos, chegou em 2019 a Jerusalém, depois de ter estado mais de 1.300 anos na Europa.
Por estes dias, celebramos o episódio daquele tempo, durante o qual Maria e José procuravam um berço para Jesus nascer. Em Ovar, durante todo o ano, uma equipa liderada por Sílvia Salgueiro dinamiza o Berço Solidário, valência das Mãos Solidárias, vocacionada para ajudar famílias carenciadas, com bebés, ao nível da alimentação, higiene (enxoval, fraldas, leite adaptado/artigos de higiene), conforto e segurança. Este mês é especial e o Berço Solidário está instalado no Mercado Municipal, junto da Senhora da Graça, com um centro de recolha para quem quiser ajudar.
Quando, há dois anos, decidiu arrancar com esta valência num ‘cantinho’ das Mãos Solidárias, Sílvia Salgueiro não tinha bem a noção do que a esperava. “Sabíamos que queríamos ajudar sem julgar, porque os bebés não têm culpa de virem ao mundo”, recorda a fisioterapia e gerontóloga clínica.
Emprestaram-lhe uma pequena sala na casa mãe, mas a procura foi tal, “não apenas de grávidas de Ovar e da região, como também de venezuelanas, brasileiras, ucranianas, etc. que foi preciso dispensarem-nos mais espaço”.
Com o “sim” do Padre Vitor Pacheco e da vereadora Ana Cunha, que achou o trabalho do Berço Solidário uma mais-valia, “conseguimos dar resposta ao ‘baby boom’ que nos esperava”. “Batemos a muitas portas a pedir ajuda, quer seja dinheiro ou géneros, que muitas vezes vêm das Mãos Solidárias e da Fábrica da Paróquia”.
Em 2023, o Berço Solidário atribuiu 20 enxovais para bebés e acompanhou 68 crianças de diversos escalões etários. A sala tornou-se realmente pequena e a equipa mudou-se para “esta casinha ao lado das Mãos Solidários, que precisava de obras que vamos fazendo conforme podemos”. Este ano, desvenda, “focamo-nos nesta intervenção principal, que é sempre cara devido ao preço dos tijolos, cimentos, telhas e outros materiais. A mão de obra vai sendo oferecida, felizmente”.
Para Silvia, “o que interessa é que já vamos tendo um espaço condigno para trabalhar, que inclui secção de costura onde recuperamos vestuário, peça a peça, lavamos roupinhas em máquina que também nos ofereceram”.
Este ano, o Berço Solidário já ofereceu 18 enxovais mas deve repetir os 20 até ao fim do ano. “Os acompanhamentos é que explodiram e este ano atingiram os 136, porque muitas vezes as mães de bebés têm mais filhos que nos solicitam ajuda”.
Hoje, congratula-se, “conseguimos oferecer, a cada recém-nascido cuja mãe nos procura, um enxoval com mantinhas, fraldas de pano e produtos de higiene que pode orçar em 150 Euros”. Já para não falar no trio (carrinho de passeio, alcofa e o ovo), “mas aí temos uma ajuda importante de um industrial local que nos apoia nesse particular”.
É que, revela a responsável, “temos casais que só precisam de um pequeno empurrão para orientar as suas vidas e depois vêm entregar o que levaram que serve para entregar a outros meninos”. “Porque é tudo caríssimo”, regista, e há casais que, mesmo a trabalhar, não conseguem pagar as contas todas.
“Nós acompanhamos de perto muitos dos casos que ajudamos e até nos emocionamos quando, algum tempo depois, os encontramos de novo, já melhor instalados na vida”, sorri, quase emocionada. O Berço Solidário lida com muitas famílias, incluindo de etnia cigana, e “a todas precisamos de fazer alguma pedagogia, porque é importante preservar”.
Apesar de estar instalado em Ovar, o Berço Solidário é igualmente procurado por mães de Estarreja e Murtosa. “Desde que tenhamos possibilidade, nós ajudamos, porque damos prioridade aos que residem cá”.
A preocupação agora, como se disse, é valorizar as instalações. “Precisamos de continuar com a obra e manter o trabalho de apoio e acompanhamento, o que é sempre difícil, mas a fé move montanhas e temos muitas almas boas que nos ajudam”.
A OvarGado, por exemplo, no âmbito da sua política de responsabilidade social, está a apoiar “a obra da envolvente verde, temos um eletricista que instala a oferece o material e ainda faz pixelaria… Temos quem nos ajude muito nesta altura do ano, porque precisamos de muitas fraldas, bens que se gastam muito”. Outro exemplo de sucesso é a parceria firmada com a Farmácia Central para o leite em pó.
Neste momento, reforça, “queremos alindar o espaço verde e encontrar quem nos ceda uma casinha de jardim para guardar material, tornar a parte de recepção mais agradável e acolhedora para quem nos procura”, regista Sílvia Salgueiro.
Para contactar, basta ir à página da rede social Facebook das Mãos Solidários – Berço e falar com as voluntárias porque ela estão sempre online.