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Estão em Ovar os “heróis do ar” que salvam vidas a partir do helicóptero “Koala”

Revelamos como funciona o Destacamento Permanente da Esquadra 552 da FAP

O Aeródromo de Manobra Nº 1, sediado em Maceda, Ovar, acolhe o helicóptero “Koala”, da Força Aérea Portuguesa, aeronave permanentemente disponível, todos os dias do ano, sempre 24 horas do dia, o que tem permitido salvar muitas vidas e diminuir o sofrimento dos sinistrados, quer no mar, quer na montanha, sempre nos ambientes mais inacessíveis.

As operações deste já célebre “Koala” têm sido noticiadas pelo OvarNews, que agora foi conhecer melhor como funcionam as equipas do Destacamento Permanente da Esquadra 552 (“Zangões”), com a sede na Base Aérea N.º 11, em Beja, partindo do AM1, em Ovar, os salvamentos em terra e no mar, nas regiões do Centro e do Norte, sendo a proximidade dos locais das ocorrências muito importante no êxito de todas as suas sucessivas missões.

REPORTAGEM DA TVI: VEJA AQUI.

A tendência, este ano, tem sido do aumento de solicitações para salvamentos em ambiente de montanha, especialmente no único parque nacional português, o da Peneda-Gerês, para além das habituais operações que tem efetuado quer em zonas marítimas quer em fluviais.

No dia 17 de julho o helicóptero AW119 da Força Aérea Portuguesa (FAP) destacado em Ovar resgatou um homem que sofreu politraumatismos nas imediações do Rio de Frades, em Arouca, sendo que sempre aos fins de semana, o “Koala” operou três vezes no Parque Nacional da Peneda-Gerês, primeiro no dia 4 de julho, salvando um homem com graves ferimentos e a padecer de problemas cardíacos, em Arcos de Valdevez, depois a 11 de julho um homem, igualmente ferido, no mesmo parque, em Ponte da Barca, tendo sido resgatada uma mulher no dia 24 de julho, também no parque, só que já em Ponte de Lima.

O trabalho do “Koala” a partir de Ovar

As missões, quer em áreas marítimas, quer em zonas terrestres, nunca são iguais, segundo aqueles mesmos militares da Força Aérea Portuguesa, cabendo ao piloto, naturalmente, o conduzir o helicóptero sempre em total segurança para executar a missão, coordenando com a tripulação como será, concretamente, a retirada e a entrega da vítima, enquanto o operador de guincho, tem de estar em comunicação com o recuperador-salvador, para ver qual o plano de ação concreto, dando simultaneamente indicações permanentes ao piloto, sobre a posição para o helicóptero operar, descendo então o recuperador-salvador, para o salvamento vertical, indo buscar a vítima, que iça depois para o helicóptero, em maca, no caso de se tratar de ferido, sendo depois deixado em terra junto das equipas de bombeiros.

Segundo o sargento-ajudante Rui Elias, as funções de um operador de guincho consistem em ser “os olhos e os ouvidos do piloto”, na operação vertical, controlando a proximidade de obstáculos, já que a função do piloto é obviamente focar-se na própria pilotagem, tendo ao mesmo tempo que se coordenar, como “homem da porta” da aeronave, com o “homem do chão” (recuperador-salvador), garantindo as suas condições de segurança e a da vítima.

O sargento-ajudante Paulo Candeias, como recuperador-salvador, explica a sua missão, a de “fazer o resgate em si, o de ir buscar a vítima, por isso é preciso saber de que tipo de vítima se trata e se está, por exemplo, politraumatizado, se tem problemas cardíacos, para a intervenção a realizar, o saber como atuar, se é içado na vertical ou então na horizontal”.

Ambos os graduados explicaram ao OvarNews que, ao contrário do que sucede nas pistas dos aeroportos e dos aeródromos, para se aterrar e levantar, no caso da montanha em geral e especialmente do Parque Nacional da Peneda-Gerês, há muitos obstáculos a equacionar, que dificulta cada missão, obrigando a um redobrar da atenção permanente a tudo e todos.

Para o primeiro-cabo Henrique Freixa, enquanto mecânico, cabe-lhe especialmente, para além do seu trabalho mais técnico, “logo de manhã e ao fim do dia fazermos uma inspeção à aeronave, verificar se está tudo bem com o aparelho, como abastecê-lo logo à chegada”.

“Koalas” realizaram 1.729 missões todas com êxito

A aeronave, um helicóptero de modelo AW119MKII (“Koala”), é operada pela Esquadra 552 – “Zangões”, sediada na Base Aérea N.º 11, em Beja, mantendo um destacamento permanente, no Aeródromo de Manobra N.º 1, em Ovar, zona norte do distrito de Aveiro, que acolhe, há vários anos, na vertente do apoio a missões de interesse público, as equipas da Esquadra 552 da BA11, para busca e salvamento no Centro e Norte de Portugal, bem como tem servido, sempre que é necessário, de base a meios aéreos dedicados a operações de combate a incêndios florestais e da mesma forma, tem apoiado as missões de transporte de equipas médicas com recolha de órgãos destinada a transplantes urgentes nesta região.

O AW119MKII “Koala”, da Força Aérea Portuguesa, foi oficialmente apresentado no dia 18 de fevereiro de 2019, na Base Aérea N.º11, em Beja, tratando-se de um helicóptero monomotor, que é extremamente versátil, capaz de operar em ambiente noturno, com a utilização de óculos de visão noturna, cumprindo assim um leque alargado de missões, designadamente para instrução básica e avançada de voo, busca e salvamento, evacuação sanitária, patrulhamento, observação e apoio ao combate aos incêndios florestais e rurais.

O “Koala” é equipado com um trem de aterragem, do tipo “patins”, tendo capacidade de instalação de flutuadores para a missão de busca e salvamento sobre ambiente marítimo e para esta missão, em particular, pode ainda ser equipado com guincho e farol de busca, tendo a capacidade de transportar até sete passageiros (além do seu piloto), ou uma maca e cinco passageiros, ou ainda 1.400 quilos, em carga suspensa, dispondo de um moderno guincho com 50 metros de extensão e cuja capacidade limite de içamento é de 204 quilos.

Desde a sua chegada, a Portugal, há cerca de dois aos e meio, mais concretamente em 18 de fevereiro de 2019, todos os “Koala” já executaram 1.729 missões e 2.500 horas de voo, sendo que só este ano o destacamento em Ovar, realizou já onze missões: seis de busca e de salvamento, neste caso com três feridos e cinco aeromédicas com um doente cada qual.

AM1 decisivo na Cerca Sanitária de 2020

O papel do AM1 foi decisivo aquando da Cerca Sanitária de Ovar, em 2020, tendo o seu comandante, à data, coronel navegador José Nogueira, assumido funções de coordenador do Gabinete de Crise, como foi sendo reportado, também, pelo OvarNews, com esta base da Força Aérea a servir de retaguarda ao centro instalado na Câmara Municipal de Ovar, circunstância que tem sido enaltecida por Salvador Malheiro, considerado “o meu herói”, da parte do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pela Covid-19, que deixou Ovar um mês consecutivo isolado com os comboios proibidos de pararem neste concelho.

Referência entre as unidade militares

O Aeródromo de Manobra nº1 (AM1), na freguesia de Maceda, do concelho de Ovar, é uma unidade militar de referência, inclusivamente já na história do mais recente regime democrático, tendo sido decisiva igualmente nos acontecimentos político-militares do 25 de Novembro de 1975, data a partir da qual foi possível pacificar a sociedade portuguesa, na sequência do Processo Revolucionário em Curso (PREC), que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, tendo o comandante operacional do 25 de Novembro de 1975, general Ramalho Eanes, já como Presidente da República, estado presente em Maceda para agradecimento, daí esse o nome da rua que atravessa o Apeadeiro dos Comboios de Carvalheira-Maceda.

A construção do AM1, de forma faseada, começou em 1957, terminando em 1966, sendo inicialmente designada como Base Aeronaval de Portugal, com um importante papel nos anos da Guerra Fria, na NATO, dispondo de uma pista principal de 2.500 metros e cerca de 25 quilómetros de estradas internas e cais de caminho de ferro com via eletrificada, tal como revelou o saudoso Alberto Sousa Lamy, no Volume 3 da sua Monografia de Ovar.

Joaquim Gomes (Texto e Fotos)

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