Esmeralda Souto cuida dos Cravos e “rega” a Liberdade
Foi a primeira mulher a ser eleita presidente da Junta de Freguesia, em 1993. Esmeralda Souto, que ocupou o cargo de presidente da Junta de Freguesia de Ovar durante 12 anos, foi a primeira mulher a ser presidente de junta no distrito de Aveiro e a primeira mulher a integrar a Assembleia Municipal de Ovar, após as primeiras eleições livres, em 1976, funções que exerceu até 2017.
Apesar de ter vivido quase metade da sua vida em ditadura, com intervenção política e social intensa, antes e pós 25 de abril, ela continua a acreditar na liberdade.
“Mas só porque tenho liberdade, não me posso esquecer da igualdade e do companheirismo. Eu nunca lutei muito contra os homens, sempre tive os homens a apoiar-me, porque eu também me impunha. As mulheres são respeitadas quando se impõem e mostram que são capazes.”
Deu de si antes de pensar em si. Professora primária em várias escolas do concelho de Ovar, foi no associativismo – especialmente nas áreas social e cultural – que empenhou o melhor de si.
Fundadora do Centro de Promoção Social do Furadouro, do Grupo Atlético Vareiro, da Associação Protectora dos Animais Domésticos de Ovar, da Sem Margem – Cooperativa Cultural de Ovar, e da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Ovar.
Continua ligada à causa social e ao associativismo do Concelho de Ovar e deixa uma mensagem aos mais novos, “mesmo ao nível da juventude ainda se vê a diferença na igualdade de género, que tem que ser combatida por mulheres e homens”.
A Luta
Opositora ao regime do Estado Novo, integrou as forças democráticas que, antes do 25 de Abril, lutaram pela abolição do regime, e, após a revolução, se empenharam na sua consolidação: primeiro no MDP/CDE, e depois no Partido Socialista, do qual é uma das mais destacadas e reconhecidas militantes.
Esmeralda Souto viveu intensamente a organização do III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro.
A histórica socialista recorda, entre muitos outros episódios, que “andei com o Afonso Candal e com o Filipe Neto Brandão ao colo quando andamos a fugir da PIDE e na organização do Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro”.
Para esta vareira, todos os dias são 25 de Abril e não há um 25 de Abril em que não se apresente de cravo vermelho na mão, na lapela, onde for preciso.
Se há exemplo de alguém para quem a Revolução dos Cravos foi uma conquista que não pode ser considerada uma vitória definitiva é Esmeralda Souto.
Mesmo depois de ter sofrido um acidente que a debilitou um tanto, Esmeralda Souto sai todos os anos para cuidar, acarinhar e “regar” os valores de abril neste dia 25.
Obrigado, Professora, Presidente e Amiga, Esmeralda Souto!