Opinião

Escaravelho da Palmeira – Paulo Bonifácio

Desde que, há sensivelmente dois anos, se começaram a detectar em Ovar as primeiras palmeiras atacadas pela praga do escaravelho vermelho ou escaravelho da palmeira, Rhynchophorus Ferrugineus (Olivier), o que é que foi feito?

No inicio de Fevereiro de 2015, comuniquei por e-mail à Junta de Freguesia e ao gabinete da Presidência da Câmara Ovarense dando conta do estado em que se encontrava a centenária palmeira do Largo da Olaria. Poucos dias depois, pelo gabinete de Apoio à Presidência da Autarquia, fui informado de que a minha comunicação tinha sido remetida para a Divisão do Ambiente, para análise e informação!?

No mês de Agosto, a palmeira da Olaria foi abatida. O desconhecimento desta praga, a falta de preparação técnica, a ausência de informação por parte de quem, por obrigação, a deveria dar, contribuiu para que não chegasse a tempo a ajuda a esta palmeira.

A autarquia lança em Março um concurso para admissão de vários estagiários, dentre os quais a de engenheiro florestal, contemplando o plano de estágio, dentre outras, a função de “Controlo do Escaravelho da Palmeira no Concelho de Ovar”, nomeadamente:

-Diagnóstico da situação da praga e elaboração de plano de acção para o controlo do Escaravelho da Palmeira;
-Divulgação pela comunidade sobre a praga do Escaravelho da Palmeira;
-Apoio técnico ao munícipe;
-Ações de sensibilização aos munícipes e empresas que combatem a praga;
-Controlo da praga nas espécies municipais.

Em Junho, com a duração de sete meses e oito dias, contrata a autarquia a “Aquisição de Serviços de Controlo do Escaravelho da Palmeira” a uma empresa privada.

Há cerca de dois meses, nalgumas palmeiras do espaço público, concretamente junto do mercado municipal da nossa praia do Furadouro e, também, em espaço não público, mas de caracter social, nomeadamente nas instalações do Centro de Promoção Social da mesma praia, apareceu no “tronco”, o espique (as palmeiras não são consideradas árvores, porque todas as árvores possuem o crescimento do diâmetro do seu caule para a formação do tronco, que produz a madeira e tal não acontece com as palmeiras que são plantas perenes, arborescentes, com um caule cilíndrico não ramificado do tipo estipe ou espique, atingindo grandes alturas) das palmeiras existentes, aliás como determina a lei em caso de intervenção, um aviso de “Palmeira em Tratamento”.

Ora eu, que não percebo nada disto, após ler as orientações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, sei que uma palmeira em tratamento deve levar uma poda sanitária, isto é, devem-se lhe cortar as folhas secas e desnecessárias, dando-lhes o destino conveniente, para que se diminua a área a tratar, bem como para eliminar parte dos infestantes que se encontram alojados no interior das folhas (a larva do escaravelho constrói galerias no interior das folhas, contribuindo para a sua fragilidade, denunciada aos primeiros ventos após a infestação).

As palmeiras que tenham de ser sacrificadas, pela impossibilidade da sua recuperação, depois de abatidas, deve ser selado com material insecticida o corte a fim de não permitir a disseminação da praga. Todos os resíduos, folhas partidas e caídas no chão, bem como os casulos feitos pela larva, devem ser eliminados.
O que é que, quem quiser, pode constatar in loco, inclusivamente quem por direito tem o dever de o fazer? Que nada disto foi feito. Para além do cartaz, claro está!

E como era bom de ver, no final da semana, apesar de “em tratamento”, procedeu-se ao abate de mais duas.
O resultado é o dinheiro gasto inutilmente, a paisagem alterada e o espectáculo de uma espécie que desaparece por incúria. Resta-nos, de futuro, quando as gerações vindouras nos perguntarem o que era uma palmeira, o google images.
Subindo em direcção à urbe Vareira, quem como eu fez o antigo ciclo preparatório na Escola Preparatória Alexandre Sá Pinto, nas instalações do antigo hospital, lembrar-se-á das brincadeiras tidas à roda da velha palmeira lá existente e que até ao final deste outono, no fim da tarde, servia de abrigo a algumas centenas de estorninhos que num espectáculo, admirável, de voo picado desciam a pernoitar e até se fechar a noite encantavam-nos com o seu orquestral chilrear. Também está morta, impossibilitando o acreditar que fosse tratada, com tal volume de rama seca, apesar de também possuir o dito cartaz!

Mais acima, no antigo largo do Martyr de S. Sebastião, o largo Almeida Garret ou Jardim da Estação, como também é conhecido, das cinco palmeiras existentes há uma, aquela que ao raiar do dia continua a dar os bons dias ao centenário depósito de água que lhe está defronte (em parte da antiga fábrica de Lino Coelho Brandão e Manuel Valente Coimbra, da Brandão e C.ª, Lda., a conserveira “A Varina” como mais era conhecida), também desde há algum tempo está doente. Já perdeu a sua coroa, pelo chão encontram-se casulos, alguns ainda, com o escaravelho e outros com a pupa no seu interior.

Tristemente constato que os funcionários que mais de perto lidam com as zonas verdes e têm por missão fazer alguma da manutenção dos espaços públicos, desconhecem o problema, não sendo mesmo capazes de identificá-lo. Não têm culpa, culpa tem quem tinha por obrigação formá-los, elucidá-los e preveni-los para que pudessem prevenir, estar alerta e poderem informar.
Para quando o plano de acção da luta contra esta praga no concelho de Ovar?
Que medidas estão a ser tomadas, no auxílio e informação dos proprietários de palmeiras, que por falta de recursos ou somente de informação, deixam que a espécie se perca e a paisagem se altere?

Existem no país autarquias, por exemplo Cascais, cujos funcionários colocam nas caixas de correio de todos os proprietários, que detectam com a espécie, informação elucidativa, incluindo do apoio que prestam, nomeadamente na recolha, para posterior destruição do produto das podas e do material contaminado. Por cá, com muita frequência, já se encontram nos caminhos secundários muita mortandade desta espécie depositada, com todas as consequências que isso acarreta.
A bem desta, da nossa, terra é necessário agir, mas com eficácia. O fazer de conta é um desperdício, é como a mentira. Tem perna curta…

À entrada do Furadouro, do lado direito, as velhas palmeiras da antiga “Vila Paraense”, em domínio privado, são um bom exemplo de uma actuação atempada e eficaz. Logo aos primeiros sintomas, foram tratadas tendo uma delas, a mais pequena, chegado inclusivamente a ter a coroa danificada. No final do verão o seu aspecto era a de um ananás, como consequência da limpeza total das folhas. Hoje, já é possível ver a sua coroa regenerar, o que leva a supor que estejamos perante um caso de sucesso e de um exemplo, que a bem do espaço público, deveria ser seguido.

As gerações Ovarenses, vindouras, ficarão gratas se souberem que no passado, tudo foi feito para preservar as palmeiras do tempo dos seus antepassados.

8 de Janeiro de 2016
Paulo Bonifácio

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Entre as duas imagens medeia um mês: 9 de Dezembro e 9 de Janeiro

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