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“Cramalheira”: Do duro e nobre couro à arte da adrenalina

António trabalha a pele que adorna motas e capacetes

Bandas de música rock: Xutos & Pontapés, Whitesnake, Bob Marley. Marcas de motas: Harley Davidson e Indian são as favoritas. E depois há as caveiras e toda a simbologia que lhe está associada.
Vêm de todo o lado bater à porta do “Cramalheira”, o homem de Ovar que domina o cabedal (ou o couro) e lhe dá cor e vida (estilo e adrenalina).
Já esteve instalado em Ovar mas agora mudou-se para Válega, na rua do Seixo, mesmo na fronteira com Avanca.
Ele é um artesão que pega no cabedal bruto e o transforma em peças gravadas, ou seja, faz arte em pele. “O sonho comanda a vida” é a máxima de António Silva, o “Cramalheira”. “Se sonhou, eu faço”, garante. Não há impossíveis para ele.
O apelido ganhou-o nos páraquedistas, a outra paixão, “porque estava sempre bem disposto enquanto estive no RI10 de S. Jacinto”.
Embora faça porta-chaves, cintos e pequenas bolsas que podem ter interesse para qualquer pessoa, a verdade é que se tornou o artesão preferido e oficial dos Motards, já que é aos amantes das duas rodas de alta cilindrada que o seu trabalho mais apela.
“Comecei quando comprei a minha moto e quis imprimir-lhe o minha personalidade. Procurei em todo lado e não encontrei quem o fizesse – hoje já há uma pessoa, no sul, mas naquela altura não havia e fiz eu. A partir daí nunca mais parei”.
Os Motards são o seu principal mercado na procura de decorar assentos, malas e alforges para motas, mas também capacetes ou punhos, tudo feito de forma artesanal, 100 por cento em pele e totalmente personalizado, uma vez que a decoração das peças é feita de acordo com a ideia e gosto do cliente.
E não demorou que a Europa reparasse nele e os pedidos chegam agora da Suíça, Itália, Bélgica, Alemanha. Trabalho não falta. “Há peças que levam dias a executar, em exclusivo de manhã à noite”, refere.
Ele próprio é admirador (e utilizador) da Harley Davidson, a famosa chopper, e portanto, reconhece integrar-se numa “tribo” muito especial, muito unida e, ao contrário do que se pensa, muito respeitadora, e também “muito vaidosa”.
E se gostam de usar roupas e acessórios personalizados, incluindo capacetes, encontram o que procuram no pequeno atelier de Válega cuja fama já vai longe.
Não esconde que as redes sociais deram um bom impulso, mas também ajudam as concentrações e feiras por onde este artesão vareiro passa -anuncia já que vai estar no Ericeira Kustom Fest, em junho próximo.
“Gosto muito do contacto com o público, de mostrar o meu trabalho e acabo sempre por trazer encomendas para os próximos meses”, avalia.
O trabalho é todo feito em pele natural de vaca, o material ideal para ser moldado e talhado com detalhe: cortar, moldar, desenhar, gravar, talhar e depois pintar, impermeabilizar, lustrar…  e de paciência.
“Cramalheira” é feliz no que faz e garante que não se vê a fazer mais nada na vida.

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