
O imunologista Luís Graça, que coordena a Comissão Técnica de Vacinação Sazonal, destaca como ensinamento da pandemia de covid-19 “a necessidade de evitar confundir política com decisões técnicas”, apontando a desinformação como uma das suas fragilidades.
“Algo que foi muito negativo nesta pandemia foi vermos como a desinformação e a falta de informação podem ter um impacto muito grande na comunidade e contaminar a resposta mais adequada e as decisões baseadas em evidência. Isto é algo que nos deve fazer pensar para o futuro”, afirma, à Lusa, o investigador do Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Luís Graça, que antes da Comissão Técnica de Vacinação Sazonal liderou a Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, falava à Lusa nas vésperas de se assinalar os cinco anos sobre a declaração pela Organização Mundial da Saúde (OMS) da infeção como uma pandemia.
De acordo com dados reportados à OMS, a covid-19, doença respiratória causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 e suas variantes e subvariantes, já matou mais de sete milhões de pessoas, entre os mais de 700 milhões de infetados.
A Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, hoje designada Comissão Técnica de Vacinação Sazonal, para incluir duplamente a gripe e a covid-19, era um grupo consultivo da Direção-Geral da Saúde que fazia recomendações de “estratégias apropriadas à vacinação” contra a covid-19 baseadas no melhor conhecimento científico disponível sobre “o impacto da doença e da vacinação”.
“No nosso país, a priorização da vacinação dos professores foi algo para o qual não existia uma recomendação técnica clara. Este grupo não estava num risco de saúde maior do que outros grupos populacionais. Contudo, proteger os professores permitia manter mais escolas abertas, mais turmas a funcionarem. A vacinação conseguiu evitar um impacto social muito maior”, salienta Luís Graça.
Segundo o imunologista, “em países em que houve uma certa contaminação da resposta técnica por decisões políticas, muitas vezes pouco fundamentadas em decisões técnicas, houve consequências que não foram as melhores”.
“Isto não significa que não deve ser feita a avaliação política do impacto de medidas de saúde pública, mas as decisões políticas devem ser baseadas no melhor conhecimento técnico e científico”, sustenta.
Luís Graça lamenta “não ter havido em relação à disponibilização de vacinas uma maior generosidade” dos países mais ricos para com os países mais pobres, sublinhando que essa generosidade, destinada também a “tentar evitar epidemias em locais mais remotos e com poucas estruturas de promoção da saúde”, como em África, pode “ser do interesse comum”.
“É uma forma de diminuir a probabilidade de sofrermos as consequências das pandemias”, justifica.
Uma “vantagem enorme que vai ficar para o futuro”, diz, é a “capacidade de responder de modo mais eficaz a epidemias”, devido ao desenvolvimento rápido de vacinas, à partilha de informação, ao trabalho científico em conjunto, à identificação e sequenciação genética célere de vírus.
“Os esforços científicos para identificar vírus e a melhor resposta aos vírus são um legado que não se vai perder”, sentencia Luís Graça.
A covid-19 foi declarada pela OMS como uma pandemia em 11 de março de 2020, depois de o coronavírus que causa a doença ter sido inicialmente detetado na China em finais de 2019.
No mundo já foram administradas mais de 13 mil milhões de doses de vacinas contra o SARS-CoV-2, de acordo com a OMS.
*Lusa