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Carlos do Carmo cantou a Varina como ninguém

Carlos do Carmo foi autor de muitos êxitos ao longo da sua carreira, vendendo mais de cinco milhões de discos.

O seu percurso valeu-lhe inúmeros prémios e distinções. Cantou pelo número inteiro nas melhores salas de espectáculos e colaborou com os principais músicos e artistas portugueses.

No dia em que nos despedimos do Rei, esta é uma oportunidade de recordar quando subiu ao palco instalado na praia do Furadouro, no dia 5 de Agosto, de 2017. Do concerto recorda-se a solenidade e o silêncio com que foi escutado. A voz e a figura do fadista maior assim inspiravam a quem o ouvia, especialmente, ao vivo.

Muitos recordam um episódio marcante nesse concerto: O fadista cantava uma canção mais alegre, mais ritmada e logo o povo bate as palmas a compasso. Afinal, era “Animar as Praias”. As pessoas começaram a bater palmas ao ritmo da música, ele pede aos músicos para pararem, e com a sua voz grossa exclama: o fado não é palmas! A plateia gelou. E não era. Aquele fado era para se ouvir e sentir.

Mas mal ele arranca com aquela voz única e inconfundível, agarra novamente no público e leva-o para onde quer. Era realmente único. Acontecia muito e nãp foi só aqui. Fadista e pedagogo, Carlos do Carmo prosseguiu a noite agora sem palmas durante as músicas, perante uma Avenida que nunca desmobilizou, rendida a um vulto maior da nossa cultura.

2021 amanhece triste com a partida de Carlos do Carmo. Fez de Lisboa menina e moça para o mundo inteiro ouvir. E cantou a Varina como só ele sabia.

No Castelo, ponho um cotovelo
Em Alfama, descanso o olhar
E assim desfaço o novelo de azul e mar

À Ribeira encosto a cabeça
A almofada, da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo

Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos veem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida

No Terreiro eu passo por ti
Mas da Graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha, sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar

Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos veem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida

Lisboa no meu amor, deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida

Poema de José Carlos Ary dos Santos, Joaquim Pessoa e Fernando Tordo com música de Paulo de Carvalho

 

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