Cantar dos Reis inscrito no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial
Por esta altura, já as troupes de Reis estariam numa azáfama, a ultimar os preparativos para começarem os ensaios dos cânticos para 2021. Mas devido à actual situação de pandemia, não haverá Cantar dos Reis em Ovar no próximo ano, conforme já adiantou o OvarNews.
As Troupes vareiras foram unânimes em considerar que, dadas as características da tradição, este ano não há condições.
Apesar disso, nem tudo são más notícias. A Direcção-Geral do Património Cultural inscreveu a tradição natalícia vareira no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, publicando-a em Diário da República.
Com a publicação do anúncio da inscrição em DR, datada de 30 de outubro, fica concluído o processo de inscrição desta tradição no inventário, que foi iniciado em 2014 pela Câmara de Ovar, no distrito de Aveiro, e esteve em consulta pública.
“A inscrição do ‘Cantar dos Reis em Ovar’ no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial reflecte os critérios (…) relativos à importância da manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade em que esta tradição se originou e se pratica”, justifica, em DR, o subdiretor-Geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos.
Ainda segundo esse responsável, a decisão confirma também o valor da “produção e reprodução efetivas que caracterizam esta manifestação do património cultural na atualidade, traduzida em práticas transmitidas intergeracionalmente no âmbito da comunidade de Ovar, com recurso privilegiado à oralidade e envolvimento empírico”.
Na página da Internet “MatrizPCI”, do qual consta o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, a tradição vareira é designada como “Cantar os Reis” – que, ao nível da preposição gramatical, é diferente em relação aos documentos citados em Diário da República – e descrita como “uma prática poético-musical multilocalizada, performada em coletivo em espaços públicos e privados do concelho de Ovar, por ocasião da Festa dos Reis Magos, a 06 de janeiro”.
A mesma plataforma indica que esse tipo de apresentação “envolve a performance musical de repertórios polifónicos próprios, contendo partes solísticas, por grupos corais e instrumentais” conhecidos como “trupes ou troupes”, que assim se dirigem a indivíduos ou instituições específicas com “mensagens cantadas”.
Essas composições são “alusivas aos valores de base cristã e inspiradas pelos episódios do ciclo de Natal, nomeadamente o da visita dos Reis Magos”.
O mesmo ‘site’ da Direção-Geral do Património Cultural refere que a atuação das trupes de reis envolve trocas materiais – de alimentos, bebidas e dinheiro – e simbólicas – de música, poesia, canto, homenagem e reconhecimento pessoal. O objetivo é contribuir “para a afirmação e redefinição permanente dos papéis sociais, sendo a performance musical o principal interface dessa relação dialógica”.
A prática está documentada desde o século XIX, sendo que um dos aspetos retransmitido através de gerações é a obrigação de o repertório musical disseminado pelas trupes “incluir uma sequência codificada de três peças designadas localmente por Saudação, Mensagem e Despedida – estrutura esta apreendida no contexto dos ensaios e das apresentações anuais”.