Canal Norte da Ria “precisa de um espelho de água constante” (DA)
Os municípios de Ovar e da Murtosa estão a fazer pressão para que uma futura intervenção na Ria contemple a regulação dos caudais. “A questão da Ria é, para nós, fundamental”, diz o presidente da Câmara Municipal de Ovar, em declarações ao Diário de Aveiro, nas quais enfatiza “não tanto o projecto de desassoreamento, mas antes, e acima de tudo, a questão da regulação de caudais”.
O edil vareiro sublinha que estes municípios ribeirinhos precisam de “um espelho de água constante no Canal de Ovar, pois não podemos estar à mercê das marés”.
Sabe-se que, naquela zona da Ria, o leito lamacento fica praticamente a descoberto quando a maré baixa, impedindo qualquer tipo de navegação.
“A nossa grande batalha, em que temos a Murtosa completamente ao nosso lado, é defender um projecto de desassoreamento em que se avance com a regulação dos caudais, em especial nas suas extremidades”. Salvador Malheiro recorda que “o Canal Norte já teve grande preponderância e importância na história do desenvolvimento desta região e não pode ser agora votado ao abandono”.
O autarca alerta que “se pensarmos apenas no desassoreamento, vamos continuar a ter amplitudes de maré muito grandes, em parte devido às obras que foram feitas na barra do Porto de Aveiro”. Para além de considerar haver necessidade de um espelho de água regular, diz que “é importante não esquecer a invasão constante da água salgada nos nossos terrenos agrícolas”.
Todos estes factores levaram os dois municípios a um “forcing” junto da tutela, para sensibilizar no sentido da regulação de caudais que, segundo Salvador Malheiro, “mais não é do que uma intervenção física que impeça que a água recue ou entre naquela força e quantidade que conhecemos”.
Solução pode passar por
“construção de um muro”
A solução, diz, “pode passar pela construção de um muro, numa determinada zona do Canal Norte, que pode estar submerso, com o objectivo de impedir que a água recue até determinado nível, e assim ficamos com o problema resolvido”. Na óptica de Salvador Malheiro, essa solução pode passar por um “pequeno quebra-mar que pode ser instalado a determinada altura e que impeça o recuo da água e uma maré baixa sem água”.
O problema da grande amplitude das marés levou a Câmara Municipal de Ovar a avançar com uma obra de desassoreamento por conta própria, na Marina do Carregal. “O que estamos a fazer é a prova de que estamos aqui para ser proactivos, porque achamos que a Marina do Carregal tem que ser um projecto de futuro e queremos que o centro de canoagem tenha as condições mínimas para o seu trabalho”. Aliás, o presidente diz que é fundamental para a região que a Ria recupere as condições para a prática dos desportos náuticos, para os cruzeiros de recreio. “Navegar é preciso no Canal Norte, porque isso promove a atracção das pessoas apaixonadas pelos desportos náuticos e pode trazer projectos turísticos de grande envergadura”, conclui.
Murtosa defende
a mesma solução
O presidente da Câmara Municipal da Murtosa, Joaquim Baptista, há muito que acredita que a dragagem só por si não vem resolver os problemas. “Defendo há muito que a solução para a Ria não passa pelo aprofundamento dos canais. Acho que a solução passa pela regulação dos caudais, que é uma coisa diferente”.
Segundo o edil, “isso não exige necessariamente um investimento megalómano, nem soluções técnicas por inventar”.
A imagem de saudade que se tem da Ria nos anos 50 do século XX, em que tinha um espelho de água permanente, potenciador da actividade marítimo-turística nos canais, potenciador de outras actividades náuticas e da pesca, hoje não será recuperável, do ponto de vista da hidrodinâmica. “Há que perceber que temos o Porto de Aveiro para preservar, mas as dinâmicas por ele introduzidas já alteraram todo o ecossistema da Ria”, aponta.
A amplitude das marés é cada vez mais crescente e já há cotas negativas em grande parte do território da Murtosa. “Se não fossem os diques periféricos, a água chegaria ao edifício da Câmara Municipal com a maior das facilidades. Aliás, as marés vivas já têm cotas superiores à cota de soleira da Câmara”.
Para Joaquim Baptista, no Canal de Ovar e no de Mira essa regulação passaria pela diminuição da secção que o canal tem hoje, fazer com que saia menos água e que entre menos água”.
Aliás, um operador de cruzeiros turísticos precisará sempre de um metro e meio de água para fazer circular a embarcação. “O turista quando vem ao Douro traz no seu imaginário o vinho do Porto e a beleza das encostas do rio, mas também a expectativa de uma vivência num plano de água”.
Sabendo que até meados de Abril a navegabilidade do Douro está interdita, a Ria seria uma óptima alternativa, dando-lhe a conhecer, simultaneamente, um ecossistema único que pode vir a tornar-se num complemento do Rio Douro.
(Ler in Diário de Aveiro)