Camelos percorreram a praia do Furadouro carregados de louça
A poeira vinda do deserto do deserto do Saara pintou o céu português de laranja e deu origem a alguns ‘memes’ divertidos no espaço digital. Um deles mostra camelos envoltos numa névia alaranjada num cenário improvável, a banhos, alegadamente, na praia do Furadouro.
Ora, a imagem não sendo real não é assim tão improvável nem impossível.
Fundada em 1824, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, em Ílhavo, foi a primeira unidade industrial dedicada à produção da porcelana em Portugal. No início da sua actividade, um dos principais problemas passava pela dificuldade na distribuição dos produtos. As estradas eram péssimas ou inexistentes. As poucas vias de comunicação existentes, muito suportadas nos cursos de água, não permitiam levar os produtos aos clientes dos principais centros urbanos.
A Ria e os seus afluentes ainda eram a alternativa mais viável, pois face ao tipo de viaturas sem molas e às fracas opções de acondicionamento e protecção das peças para transporte, existentes à época, a maioria das encomendas chegavam em cacos ao seu destino.
Para obviar a este problema e facilitar o envio dos seus produtos para os núcleos urbanos onde estava a maioria dos seus clientes, a Vista Alegre fez uma opção radical.
Mandou vir uma cáfila do norte de África… precisamente: vários camelos! E passou a fazer o transporte das louças em camelos, que faziam preferencialmente o percurso ao longo da costa, para aproveitar as areias, que os camelos conheciam bem e que amorteciam os impactos protegendo a frágil porcelana.
Conta-se que a louça vinha pela Ria até ao Cais da Pedra, em Ovar, e depois seguia pela costa até aos arredores do Porto. O espanto da população da praia do Furadouro, perante a exótica comitiva, não podia ser maior.
Diz a “lenda” que, numa destas passagens, os fiéis que se encontravam na capela a assistir à Missa saíram para o areal para ver o insólito desfile, deixando o padre sozinho no altar.
Refira-se ainda que exploração do caulino, localizada na freguesia de São Vicente de Pereira, em Ovar, fornece ainda hoje a matéria prima necessária à fábrica de porcelana “Vista Alegre”, em regime de exclusividade, desde 1834.