Beijos que matam e beijos que salvam
Há histórias que têm final feliz. Já passou mais de meio ano desde que Inês contraíu um vírus traiçoeiro, esteve às portas da morte, mas a irmã salvou-a. Hoje os dias correm quase normais, sem grandes queixas de saúde.
Foi em Novembro de 2023 que Inês Pinho foi levada de urgência para um hospital, em Inglaterra, depois de ter uma reacção grave ao vírus Epstein-Barr, causador da Doença do Beijo, e de testar positivo ao HLH (linfoistiocitose hemofagocítica), uma condição hiperinflamatória, potencialmente fatal que terá contraído em Outubro.
De um dia para o outro, Armanda Pinho, vareira radicada em Inglaterra, foi informada, que a filha Inês estava internada nos cuidados intensivos e com prognóstico muito reservado.
De repente, o HLH passava a ser parte do léxico diário. Um distúrbio raro que causa uma disfunção imunitária cujas manifestações podem incluir linfadenopatia, hepatosplenomegalia, febre e anormalidades neurológicas. O diagnóstico é feito através de exames genéticos e clínicos específicos. O tratamento geralmente é feito com quimioterapia e, em casos refratários ou em casos com causa genética, transplante de célula-tronco hematopoiética.
Armanda recorda o medo que sentiu quando foi confrontada com o diagnóstico da filha. “99% das pessoas apanham ou já apanharam este vírus e nem sequer sabem que o têm ou tiveram e não apresentam sintomas”.
O que aconteceu com a Inês, “é muito raro, uma reacção extrema do sistema imunitário”. Levada para os cuidados intensivos, a jovem luso-britânica iniciou de imediato um tratamento retroviral. “Estávamos calmos, mas, claro, que tivemos os nossos momentos…”, confessa a mãe, vareira radicada em Felixstowe, cidade costeira do sul de Inglaterra.
O estado de Inês era mesmo grave. Segundo os médicos, este caso foi apenas o quinto de sempre registado em Inglaterra, o que dificultou muito, atrasando o diagnóstico e tratamento.
Na fase aguda da doença, o sistema humanitário de Inês ficou completamente comprometido e teria 5% de hipóteses de vida, se nada fosse feito e depressa. “Foi terrível”, classifica o tio, Paulo Pinho, que embora resida em Ovar, visitou a sobrinha várias vezes em Inglaterra.
Após algum tempo de indefinição e com a Inês a piorar, os médicos chegam à conclusão de que necessitaria de um transplante de células estaminais, uma vez que o EBV estava em todas as células, o que a tornava resistente ao tratamento que lhe estavam a ministrar.
Encontrar um dador era a próxima etapa e nem sempre é fácil. “Os médicos testaram a irmã, Madalena, para ver se ela era compatível – “o mais importante era saber se ela também já tinha tido EBV, pois isso significaria que ela teria os anticorpos corretos para combater o vírus”.
A boa notícia era que, a Madalena não só era 99,9% compatível, o que só acontece em 25% dos casos, como também tinha anticorpos para combater o EBV de Inês. “Eu e minha irmã ficamos incrivelmente felizes com a nossa sorte, já que apenas um em cada quatro irmãos é compatível”, recorda a Madalena.
Foi então marcada a doação de células estaminais, enquanto a sua irmã Inês esperava ansiosamente. “Um total de 350 milhões de células-tronco foram colhidas com sucesso e estavam prontas para serem doadas a Inês. Um processo tão simples e que pode salvar a vida de alguém,”, recorda Andrew King, o médico britânico que realizou o transplante.
Depois de tudo o que passou, quase milagrosamente, Inês começou a recuperar. Madalena ficou tão feliz que lançou uma campanha de angariação de fundos para ajudar Anthony Nolan a continuar o seu trabalho de salvar vidas. Em Março, já tinha angariado mais de 1.500 Libras para a causa
Hoje, Inês Pinho já não está no hospital, faz a sua vida quase normal depois de ter passado quatro meses internada, incluindo o Natal, em estado muito grave.