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Balneários Públicos do Lamarão oferecem cem banhos por mês

Em pleno 2020, tomar banho é ainda um “luxo” para muitos, residentes ou sem-abrigo, que encontram nos Balneários Públicos do Lamarão, além de duche diário, não raras vezes, também alguma companhia nas horas de solidão. Os ‘banhos’ disponibilizados pela estrutura recebem um número razoável de utilizadores com diferentes necessidades que sabem que, na cidade, ainda há um lugar solidário para com todos.

Construído na década de 1990 para responder às carências habitacionais do Bairro do Lamarão, o balneário público ovarense fornece actualmente uma média semanal de 25 banhos gratuitos. Um número que se mantém estável após a sua reabertura, no âmbito de um conjunto de medidas de emergência social para ajudar a atenuar os efeitos do estado de calamidade pública devido à pandemia por covid-19, decretado no dia 18 de Março, no concelho de Ovar. A partir dessa data e durante um mês, Ovar esteve sujeito a um cerco sanitário, e, segundo o presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, desde essa data tem vindo a desempenhar um papel “de extrema importância para a saúde pública” e, ao mesmo tempo, tem “tido um impacto social positivo na comunidade”.

Para apoiar os munícipes sem casa ou com alojamentos precários, os Balneário Públicos do Lamarão disponibilizam desde então, diariamente, entre as 10h e as 12h, “acesso a banho e mudas de roupa”.
Dotado de quatro duches e três casas-de-banho para homens e outros tantos no feminino, os utilizadores, hoje, “na sua maioria são pessoas de etnia cigana, emigrantes de Leste, alguns sem sem-abrigo que chegam também de outros concelhos”, disse Manuel Cruz, que “gere” o balneário desde que reabriu este ano.

Os balneários colectivos, construídos para suprir as necessidades de casa de banho, abastecimento de água e saneamento, de muitas famílias do Bairro do Lamarão, já tinha deixado de ser um equipamento de primeira necessidade para os seus moradores, passando a servir indivíduos e famílias vindas de lugares um pouco mais distantes, como por exemplo, Carregal, Ponte Nova e Marinha.

Manuel Cruz assegura-se de que todos saem do balneário com roupa limpa e apresentável. “Ainda agora encontrei roupa no chão e não pode ser”, exemplifica. “Aviso-os sempre que isto não é um caixote do lixo, mas um agora respondeu-me que ia ao carro e já vinha e não apareceu mais”. “Mas há aqui limpeza e higiene”, assegura.
Com recurso a um jeito que desenvolveu ao longo dos anos tenta sempre resolver a bem eminentes conflitos que podem estar no horizonte. “Porque, às vezes, ameaçam-nos por ‘dá cá a aquela palha’ mas eu evito responder e aquilo passa”. Não foi por acaso que Manuel Cruz já recebeu a Medalha de 25 anos de serviço e “tenho um nome limpo na Câmara, o que não é fácil”.

Como se disse, o balneário foi construído a pensar nos habitantes do Bairro do Lamarão, mas agora é procurado “por mais gente”, revela ele, referindo que “ainda há dois ou três utilizadores aqui do Lamarão, mais carenciados, que até têm esquentador, mas nem sempre conseguem pagar a conta e vêm cá lavar-se”. Outros vão tomar banho mas também pedem autorização para fazer a barba “e eu autorizo, claro, e eles fazem”. “Algumas senhoras trazem crianças, às vezes, e tomam banho à vontade, porque o balneário tem duas zonas separadas para homens e mulheres”, explica.

Manuel Cruz não tem dúvida de que é um serviço “muito utilitário, onde não se paga nada porque os banhos são grátis quando antes da pandemia pagava-se 30 cêntimos”. “As pessoas chegam aqui e encontram água quente, papel higiénico, tudo de graça”. “É um bom serviço”, ajuiza, assegurando que “a limpeza é sempre feita mas não sou eu que a faço porque não posso devido à minha condição física”.

Manuel Cruz começou a trabalhar na Câmara Municipal de Ovar com apenas 17 anos, começando logo pelos balneários públicos do Furadouro, na época estival. “Depois fui para os WC públicos do centro da Praça e a seguir fui deslocado para os da Igreja Matriz, sempre em Ovar”. Atendendo ao seu estado, pediu para ser deslocado para o Lamarão “para estar perto de casa”. “Aqui, somos dois para isto poder estar sempre aberto aos domingos e feriados e tudo”, acrescenta.

Requalificação da Rua Dr. Cunha
A pensar no arruamento principal que atravessa o bairro onde está o balneário, a Rua Dr. Cunha, a Câmara Municipal de Ovar anunciou que vai avançar com a empreitada da sua requalificação.
Salvador Malheiro adiantou que a obra, avaliada em cerca de 300 mil euros, vai ser financiada por verbas remanescentes do PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimenro Urbano, e deverá arrancar no primeiro trimestre do próximo ano.
Caracterizada por ter grande densidade habitacional, a referida artéria possui algum edificado de valor patrimonial, artístico e histórico, em particular dos azulejos e dos ornamentos cerâmicos de fachada, datados do século XIX/XX que se pretende preservar e recuperar.
Em traços gerais, a intervenção vai procer ao lavantamento de pavimentos diversos, lancis e redefinir peris transversais. Prevê a pavimentação de passeios em lajeado de granito e em betuminoso, renovação e reforço de sinalização vertical e horizontal de trânsito , beneficiação e reforço da rede de drenagem de águas pluviais, beneficiação e susbstituição dos elementos da rede de iluminação pública, uniformizando elementos, recorrendo à tecnologia LED, com vista à redução da factura energética.

Luís Ventura in Diário de Aveiro.

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