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“Ilhas da Ria”: Memórias de um património que nos une

“Ilhas da Ria” é um livro de Maria José Santana através qual o leitor é desafiado a partir à descoberta dos tempos áureos das ilhas da ria de Aveiro, entretanto deixadas ao abandono e ao esquecimento. Um relato feito a partir das memórias daqueles que protagonizaram o tempo em que as ilhas eram estâncias de veraneio ou campos de trabalho árduo.

Situadas na parte central da laguna, as ilhas da Ria de Aveiro já foram terra que deu de tudo (milho, feijão, batatas, melancias, vinho e até sal) e algumas delas até chegaram a ser habitadas. Com existência registada desde 1407, as ilhas aveirenses são pequenos pedaços de terra hoje votados ao abandono e dos quais pouco reza a história contada nos livros. Restam as memórias daqueles que protagonizaram ou testemunharam esses tempos idos, em que foram pequenas estâncias de veraneio, para uns, e campos de trabalho árduo, para outros.

O retrato “Ilhas da Ria” faz-lhes justiça, antes de eventualmente desaparecerem, se não forem travadas a tempo a degradação e a erosão a que estão sujeitas.

Quatro perguntas à autora

Maria José Santana é jornalista. Começou pelas rádios e jornais locais, colaborando, desde 2005, com o «Público». Em 2014, inspirada pela ligação do seu município (Ílhavo) à pesca do bacalhau, lançou o seu primeiro livro, «Até que o mar nos separe». Nasceu em 1976, cresceu à beira da ria e é também junto às suas margens, no lugar que Eça de Queirós classificou como «um dos mais deliciosos pontos do globo», que vive.

1.De que trata o livro?

O livro parte à descoberta daqueles que terão sido os tempos áureos das ilhas da ria da Aveiro, entretanto, votadas ao abandono e ao esquecimento. A partir das memórias daqueles que protagonizaram esses tempos idos em que as ilhas eram pequenas estâncias de veraneio, para uns, e campos de trabalho árduo, para outros, tentei retratar as estórias e vivências desses pequenos pedaços de terra.

Uma viagem no tempo através dos relatos daqueles que protagonizaram ou testemunharam parte dessa história, confirmando que as (poucas) ruínas que se mantêm de pé já foram casas mais ou menos humildes. Recordadas com uma enorme saudade – fundamentalmente, pelo ar puro e beleza natural -, as ilhas da ria parecem ter sido guardiãs de inúmeros momentos de felicidade.

2.Como surgiu este livro?

A ideia partiu da própria Fundação Francisco Manuel dos Santos, na sequência de uma reportagem que publiquei no P2 (Público) alusiva à Testada. Dias depois, fui confrontada com o desafio: porque não desenvolver o tema da reportagem e alargá-lo a todas as ilhas da ria? Aceitei, tanto mais porque o pressuposto passava, efectivamente, por fazer uma grande reportagem.

3.Foi difícil realizar este trabalho?

Devo lembrar que este trabalho foi feito ao longo de 2020, ano de pandemia, com um longo confinamento pelo meio. Isso acabou por atrasar todo o trabalho de campo que era preciso realizar, assim como as pesquisas bibliográficas. Outro dos grandes desafios passou por conseguir identificar e arranjar os contactos de antigos habitantes ou ocupantes das ilhas, mas com a ajuda de uns quantos conhecidos o obstáculo acabou por ser ultrapassado.

4.O livro deixa alguma mensagem em particular?

Um grito de alerta. Académicos, pescadores e navegadores não têm dúvidas de que, a não haver uma intervenção, no sentido de travar a degradação e erosão, as ilhas da ria correm o risco de desaparecer a longo prazo.

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