Aqui e acolá, chovem cavacas! É São Gonçalinho!!! – Por Pedro Nuno
Do alto da capela que empresta o nome ao santo, ouve-se o sino. Há promessas para serem cumpridas. Alguém o faz tlintar para, a seguir, atirar cavacas cá pra baixo, onde uma multidão de devotos, de braços ao alto, aguarda-as. Num caso ou outro, hematomas e cabeças feridas são uma realidade. “Faz parte, pá! Isto é São Gonçalinho!”, refere um mordomo qualquer, visivelmente alterado pela garrafa de Licor de Alguidar que ingeriu ao almoço. A primeira romaria do ano é em Aveiro e é considerada por muito como o evento de cariz devoto mais peculiar do país. E eu concordo.
A brava malta da mordomia dá poucas horas de sono à cama. Nem podia ser de outra forma. E muito deles, se quiserem fazer amor, fazem-no a céu aberto, num dos vários becos da nossa Beira-Mar. A festa acontece um pouco por todo o lado e a magia impera: a presença de São Gonçalinho é notória e aquece a alma até do aveirense que menos a sente. Abraços e beijos são dados! Há lágrimas que mesmo evitadas acabam por sair. As pessoas de fora deliciam-se com a envolvência singular que o “nosso menino”, como é carinhosamente apelidado pelos nativos, proporciona a todos. “Isto aqui é do car****, meu puto! Nunca vi coisa igual! E finos a 1 euro e shots a 50 cêntimos! Fod****, puto! Assim não dá!”, dizia-me um camarada meu de Coimbra que visitou Aveiro por esta altura, há três ou quatro anos.
O santinho “rapioqueiro” é rancoroso, há quem o diga. E ai de alguém que falhe nas promessas feitas ao homem e que não lance as cavacas prometidas dos céus da capela, situada no pitoresco e colorido bairro da Beira-Mar, onde tudo (reitero o “tudo”) acontece. Ora por magia, ora por devoção, ora de forma natural.
Bem-vindo, São Gonçalinho! Enche-nos de alegria! Tu sabes fazê-lo, porra!
Pedro Nuno Marques