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Agricultores exigem obras na Ria para proteger colheitas da água salgada

 

Agricultores e moradores da zona da Marinha, Ovar, concentraram-se hoje na Câmara Municipal para reivindicar do Governo obras urgentes que impeçam o avanço das águas da ria, já que a salinização vem ameaçando as sementeiras destinadas ao verão.

“Vivo ali há 80 anos. Quando comprei os meus terrenos eles eram os melhores da Marinha e agora tenho tudo sem poder cultivar”, declarou à Lusa José Maria Santos, que aí cria 30 hectares de milho para silagem de animais. “Todos os anos a ria sobe um bocado, mas as águas nunca chegaram tão cá acima como desta vez, há uns dias. À custa disso já perdi uns 200 alqueires de milho”, realçou.

O agricultor admite que já pensou investir a expensas próprias em valas que permitam proteger as suas terras, mas, sendo isso proibido, reclama: “É preciso que a Câmara nos ajude e arranje maneira de eles fazerem ali obras de fundo”.

Albino Silva, presidente da Associação da Lavoura do Distrito de Aveiro e porta-voz da comissão de luta pela dessalinização da Marinha, nota, contudo, que essa intervenção compete ao Estado.

“Cabe aos técnicos do Governo fazer o estudo da situação e decidir os melhores procedimentos, mas há décadas que as obras estão a ser prometidas e até hoje eles não têm feito nada”, explica.

António Valente, que também tem terrenos de cultivo na zona e diz que este ano já perdeu sete hectares de milho para o sal, argumenta, ainda assim, que à autarquia não compete apenas pressionar o Governo: “A própria rua principal da Marinha serve de canal para a ria invadir os terrenos e, como ainda agora tivemos 40 centímetros de água na estrada, em altura, aí a responsabilidade já é da Câmara”.

Referindo o caso de um automobilista que não se apercebeu dessa acumulação de água na via pública e “partiu o motor do carro só de bater contra ela”, o agricultor afirma que “nem bombeiros nem Protecção Civil se arriscam a intervir durante as cheias naquela zona porque a estrada não tem luz nem visibilidade”.

Por isso mesmo, alerta: “Se houver ali uma intempérie a sério, as pessoas não têm hipótese de ser socorridas. Só se for de helicóptero”.

O presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro, reconhece que a invasão de terras pela água da ria é um problema do concelho, sobretudo tendo em conta a importância que o sector primário representa na economia local, e, quanto às exigências da população da Marinha, garante: “Eles têm toda a razão. Têm agora, como já tinham anteriormente”.

Para o autarca, a solução passa por duas grandes intervenções: primeiro, o desassoreamento da ria de Aveiro, “que há muito está a ser prometido a Ovar” e custará 20 milhões de euros. Depois, como aspecto “fundamental” nessa operação, a regularização dos caudais, que se mostra necessária desde que as grandes obras no porto de Aveiro criaram “uma amplitude de marés muito maior”, motivando inundações na maré cheia e impedindo a navegabilidade da ria durante a baixa.

Como o problema não se limita a Ovar e afecta também concelhos como Murtosa e Estarreja, Salvador Malheiro defende uma solução “intermunicipal” e diz que ela “urge”, até porque a intervenção em causa estaria prevista como “prioritária” no âmbito do Polis Litoral Ria de Aveiro “e essa sociedade vai terminar”, pelo que as obras competem agora exclusivamente ao Ministério do Ambiente.

“O ministro disse que na próxima reprogramação dos fundos comunitários este projecto ia estar na frente da linha”, declara o autarca.

“Temos a promessa do Governo de que o desassoreamento vai avançar e vamos aguardar, dar o benefício da dúvida”, conclui, mencionando que o território afectado “não permite a acção direta nem dos agricultores nem da Câmara Municipal”, por em causa estarem áreas protegidas.

 

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