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Há um aveirense que também foi premiado na 86.ª edição dos Óscares de Hollywood

O filme “Gravidade”, com Sandra Bullock e George Clooney, foi o filme a vencer mais Óscares, nada menos que sete, incluindo o de Melhor Realizador e o de Melhores Efeitos Especiais. Muito embora não tenha subido ao palco para pegar na estatueta e ler um discurso de agradecimento, há um aveirense que sente este Óscar como seu.

Joaquim Santos, 33 anos, fez parte da equipa que trabalhou os efeitos especiais premiados na noite de 2 de Janeiro e que são já considerados revolucionários.

Os efeitos especiais do filme, realizado por Alfonso Cuáron, foram da responsabilidade da “Framestore”, empresa britânica especializada nesta área que tem trabalhado em diversos filmes premiados. Só Joaquim Santos participou em “Lincoln” e “47 Roonin”.

Mas vamos a “Gravidade”, que é o que nos interessa. “Os meus colegas já tiraram uma fotografia com o Óscar, mas como já tinha vindo para Portugal, não tive ainda esse privilégio”, contou ao Diário de Aveiro.

Joaquim Santos desempenhou a sua tarefa numa divisão da empresa localizada em Bournmouth e desvenda alguns dos segredos do filme que nos escapam à vista quando nos sentamos a assistir ao filme. “Em “Gravidade”, basicamente, os actores foram sentados numa cadeira giratória, mais ou menos vestidos, postos a rodar e filmados, para dar a sensação que estão a deslocar-se no espaço”.

Basicamente, e para colocar alguma ordem logo à partida, Joaquim Santos adianta que “nas grandes produções, grande parte do que se vê no ecrã, simplesmente não existe”. No caso de “Gravidade”, “tirando algumas sequências da estação orbital e na nave espacial, é tudo digital”. No caso deste filme, os actores tinham sido filmados previamente com uns fatos que o realizador resolveu, posteriormente, tornar mais elaborados.
“Então, das filmagens dos actores, ficamos só com as caras e o resto foi tudo cortado e desenhado em computador para 3D”, desvendou o aveirense. Ou seja, a Sandra Bullock foi candidata ao prémio de Melhor Actriz Principal pelas expressões do rosto, pois o corpo não é dela? “Sim”, responde, “tirando a cena em que ela aparece de calção preto na nave e depois a conduzir a cápsula chinesa, no resto do filme, não é o corpo dela”.
Ficam os elucidados de como os nossos olhos são enganados pela indústria de Hollywood.
Embora não seja um entusiasta da tecnologia 3D, Joaquim Santos já viu o filme e diz que “funcionou muito bem e melhor que a concorrência, muito embora não tenha sido filmado de origem em 3D”.

Aliás, há astronautas que aconselham a quem nunca foi (e nunca poderá ir ao Espaço) a ver o filme que será a experiência mais aproximada que terão a esse nível.

E como é que a Framestore chegou ao filme? Joaquim Santos explica que quando um determinado estúdio tem o projecto de um filme ou este lhes é apresentado por um realizador, fazem muita da preparação no geral, mas quando o assunto é efeitos especiais, eles subcontratam, pois, geralmente, os estúdios não detêm a casa que os faz.

O processo passa pelo envio dos guiões a várias empresas especializadas que depois remetem um orçamento estimado para os efeitos especiais. “Normalmente, os efeitos especiais são feitos em mais do que uma casa, neste caso, foi só na nossa, porque queríamos afirmar-nos mais neste capítulo e correu muito bem”, refere.

A Framestore, tal como as grandes produtoras de efeitos especiais do mundo, tem divisões em vários pontos do mundo, o que lhes permite trabalhar 24 horas por dia. Isto é, quando os escritórios estão a largar o projecto em Inglaterra está uma equipa a pegar na India, por exemplo, e o processo nunca pára. “É brutal”, resume.

 

 

Três Perguntas a Joaquim Santos

Como foi parar à Framestore, em Inglaterra?
Tirei o curso de Novas Tecnologias da Comunicação, na Universidade de Aveiro, que tinha uma cadeira de 3D. Acho que foi por aí que comecei. Depois, quando terminei, pensei no que fazer. Gosto de filme, gosto de jogos e então lembrei-me que o caminho era por ali. Em Portugal, pareceu-me difícil, então comecei a ver lá fora.

O que encontrou agradou-lhe mais do que o que viu por cá?
Vi muitos cursos, alguns deles intensivos, mas acabei por optar por fazer uma pós-graduação numa universidade inglesa líder neste segmento e que tinha a especialização em efeitos especiais digitais. Quando terminei, comecei a concorrer a estúdios e coisas assim e acabei por entrar nesse estúdio.

Foi mais fácil do que esperava?
Neste processo, fiquei a perceber como se processam as coisas. Concorremos e chamam-nos para uma entrevista e um teste. Antes de entrar, assinamos um documento em que nos comprometemos a nada divulgar do que vemos lá dentro. No teste prático, pedem-nos para fazer determinadas tarefas num determinado espaço de tempo.

 

Nota: Respigamos este artigo, publicado no jornal Diário de Aveiro, após ter sido alvo de menção por Marcelo Rebelo de Sousa, no seu habitual comentário de Domingo, na TVI. Boas leituras!

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