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Dia da árvore, Dia da floresta – Por Álvaro Reis (AGIR)

 

Distantes vão os anos em que as mentes de então tomaram consciência da importância em plantar árvores sobre as dunas litorais de modo a fixarem-se as areias levadas pelos fortes ventos de noroeste.

Plantar e cuidar dessas mesmas plantações eram os objectivos dos Serviços Florestais em finais do sec XIX .

Surgiriam, assim, extensas plantações de pinhal em distintos sectores da faixa marítima portuguesa.

Entre Esmoriz e Leiria os areais passaram a suportar uma extensa mancha de pinheiros-bravos (Pinus pinaster), com os quais conviviam pinheiros-mansos (Pinus pinea), choupos-negros (Populus nigra), amieiros (Alnus glutinosa), salgueiros (Salix sp.) samouco (Myrica faya), ……, e camarinheiras (Corema album), entre outras.

Apesar das matas não constituírem um verdadeiro bosque, nunca deixaram de representar um ecossistema muito particular, com uma importância relevante na biodiversidade litoral.

Aqui instalaram-se comunidades de aves, como a águia-d’asa-redonda (Buteo buteo), o gavião (Accipiter nisus), o açor (Accipiter gentilis), a coruja-do-mato (Strix aluco), a galinhola (Scolopax rusticola), a rola-brava (Streptopelia turtur), além de variadíssimas espécies de pássaros, como o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major), o torcicolo (Jynx torquilla) e a trepadeira azul (Sitta europaea).

Aqui se instalaram, igualmente, comunidades de mamíferos, como o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), a gineta (Genetta genetta) e o texugo (Meles meles). De répteis, como a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), a cobra-de-escada (Elaphe scalaris) e a lagartixa-do-mato-comum (Psammodromus algirus). De anfíbios, como o sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes) e o sapinho-de-verrugas-verdes (Pelodytes punctatus), ….. de insectos, de musgos e de líquenes.

Instalaram-se, porque agora na mata ovarense (localmente designada como mata da Bicha ou mata de Maceda e administrativamente designada como Perímetro Florestal de Ovar) não se instalam. Não se instalam, porque deixaram de ter condições para tal.

As comunidades faunísticas e botânicas no presente são, por isso, uma pálida imagem do que foram no passado.

É que enquanto os Serviços Florestais de outrora plantavam e cuidavam das matas, o ICNF de agora corta árvores e vende madeira, permitindo, ademais, que as autarquias ávidas de “ecologia” desafectem áreas sem qualquer motivo justificador.
Nos últimos anos tem sido “um vê se te avias”.

Os cortes nesta zona multiplicam-se. E recentemente o ICNF com o beneplácito da autarquia vareira estruturaram um novo Plano de intervenção nesta mata, ainda mais gravoso que o anterior.

A mata vareira será destruída às parcelas.

Uma aqui, outra acolá, em zonas interiores da mancha florestal (para não dar tanto nas vistas), até ao destino final que será a perda de um recurso municipal secular.

Espécies emblemáticas dos habitats costeiros como a camarinheira, já extinta noutros sectores ibéricos, mas aqui ainda presente como uma relíquia natural, corre o risco de se extinguir a curto prazo juntando-se, assim, a várias das espécies atrás mencionadas que aqui abundavam.

Este estado de coisas não deve e não pode continuar. A mata que constitui o Perímetro Florestal de Ovar deve continuar a constituir o ecossistema de outros tempos.

A destruição de sucessivas parcelas da mata contrariam, aliás, o disposto no art.º 25 da parte VI do Decreto de 24 de Dezembro de 1901 (em que assenta a gestão actual da área por parte do ICNF) ao desprotegerem o solo, fomentando a mobilização dos areais.

Dado que o estatuto de Perímetro Florestal não garante a sobrevivência deste ecossistema, é importante que o mesmo integre a rede nacional de áreas protegidas através da figura de

“Área de Paisagem Protegida da Floresta de Ovar”.

É urgente que a União Europeia tome conhecimento do que de errado se faz por aqui e da vontade das populações locais em preservarem o seu património florestal!

Álvaro Reis, Coordenador do Departamento do Ambiente.

AGIR Pelo desenvolvimento da nossa terra. 

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