Património Cultural no Ensino de HGP – Por Diogo Sousa
A disciplina de História e Geografia de Portugal (HGP), lecionada no 2.º ciclo do ensino
básico, ocupa um lugar central na construção da identidade cultural e cívica dos alunos.
Contudo, ensinar HGP apenas com base em factos cronológicos e mapas estáticos ignora
uma das suas maiores potencialidades: a valorização do património cultural como
ferramenta de sensibilização para a preservação da memória coletiva. O património —
material e imaterial — é um recurso educativo vivo que aproxima os alunos da sua história,
inspirando-os a compreender, valorizar e preservar o que os rodeia.
Quando falamos de património cultural, referimo-nos a monumentos, sítios históricos,
tradições, histórias orais e até práticas quotidianas que nos definem como sociedade. Estes
elementos não devem ser apenas referidos nos manuais escolares; devem ser explorados
como meios concretos de aprendizagem.
Por exemplo, visitar o Mosteiro da Batalha não é apenas conhecer um edifício. É
compreender a importância da Batalha de Aljubarrota, o contexto da independência
nacional e a riqueza do gótico. Mais do que memorizar datas ou nomes, os alunos
desenvolvem empatia histórica, conectando-se emocionalmente com a sua herança cultural.
A exploração do património cultural nas aulas de HGP tem um impacto direto na formação
dos cidadãos do futuro. Ensinar os alunos a valorizar o património é formar cidadãos
conscientes, preparados para respeitar e proteger os bens históricos e culturais.
Infelizmente, muitos jovens desconhecem a importância de monumentos ou tradições
locais, vendo-os como simples coisas sem relevância.
Quando os alunos percebem que o património cultural conta histórias — as suas, as das
suas famílias — ganham um novo olhar para a sua preservação. Por exemplo, aprender
sobre os azulejos portugueses pode transformar-se numa reflexão sobre a necessidade de
combater o vandalismo ou o abandono de edifícios históricos. Desta forma, o ensino de
HGP torna-se também um veículo para a educação para a cidadania.
Além dos grandes monumentos ou sítios históricos nacionais, é fundamental que os
professores de HGP explorem o património local e imaterial. Cada região possui um vasto
leque de tradições, lendas e memórias que podem ser trabalhadas nas aulas de forma
interativa.
Por exemplo, estudar as festas tradicionais ou as lendas locais ajuda os alunos a reconhecer
o valor das suas raízes e a criar laços com a sua comunidade. A realização de entrevistas
com os mais velhos ou a recriação de tradições locais em projetos escolares aproxima os
conteúdos da realidade dos alunos. Estas atividades humanizam o ensino, mostrando que a
História não está apenas nos livros, mas também nas pessoas e nos espaços que nos
rodeiam.
O professor tem um papel fundamental na mediação entre os alunos e o património,
devendo ser facilitador de experiências educativas, utilizando o património como recurso
pedagógico ativo.
As visitas de estudo a monumentos, museus ou sítios arqueológicos são uma das estratégias
mais eficazes para ensinar HGP. Contudo, estas atividades não devem ser vistas como
simples “passeios”. Devem ser planificadas com objetivos claros, integradas nos conteúdos
e acompanhadas de reflexões pós-visita.
Concluindo, o património cultural é uma ponte entre o passado, o presente e o futuro. No
ensino de HGP, ele não deve ser tratado como um conteúdo secundário, mas como um
instrumento pedagógico central para inspirar os alunos a valorizarem a memória coletiva e
a identidade cultural. Preservar o passado não é apenas uma questão de respeito pelos que
vieram antes, mas uma forma de preparar as gerações futuras para construir um mundo
mais consciente, informado e conectado com a sua herança.
Diogo Fernandes Sousa
Escritor do Livro “Rumo da Nação: Reflexões sobre a Portugalidade”
Professor do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte