Há uns meses tive um familiar numa situação terminal nos cuidados intensivos do Hospital S. José em Lisboa. Perante o desejo da nossa família em querer ter presente um padre para poder ministrar o sacramento católico da “extrema unção”, a conversa que desenvolvi com as enfermeiras de serviço, naquele dia, fez-me aperceber que a intenção de um cidadão pretender acompanhamento religioso no final da vida para um familiar que também o deseja, é um acontecimento tão raro, no dia a dia daquele serviço, como é um marciano aterrar na crosta terrestre.
Após algumas explicações às jovens enfermeiras, lembrei-lhes que existia um capelão neste Hospital público e que serviria para situações como era a situação terminal do meu familiar. Após alguns telefonemas e procedimentos, o Sr. Padre, muito diligente por sinal, conseguiu ministrar o sacramento da “extrema unção” umas poucas horas antes do meu ente falecer.
Na altura, pensei para mim que este ritual, para famílias sem a insistência que tive naquele dia, é uma prática inexistente nos hospitais portugueses. É a isto que chamamos a “liberdade Religiosa” prevista na constituição da República?
Não deveria existir o cuidado dos serviços que lidam com os doentes em fase terminal de respeitar, em nome da “Liberdade Religiosa”, a religião e a vontade de cada doente que estão a tratar? Sem praticar de forma negligente esta espécie de eutanásia espiritual?
O interesse do pessoal médico, auxiliares, enfermeiros e médicos, em saber se a “Pessoa” que têm à sua frente professa alguma religião deveria ser pelo menos algo que deveria constar na sua “lista de afazeres”. Contudo, o nosso “Estado” fez ao longo do tempo, sob a cortina da laicidade, uma espécie de eutanásia espiritual, a um direito consagrado na constituição.
Será que as senhoras deputadas, principalmente da “esquerda” portuguesa andam tão preocupadas com a agonia corporal que acham que no leito da morte, também não morrem cidadãos agoniados espiritualmente com a laicidade imposta pelo Estado? Eu acho que sim e são bem mais “Pessoas” do que as senhoras deputadas pensam…
Encarar assim o Ser Humano, sem espírito, é algo que o socialismo de Estaline fez bem e que pelos vistos por cá, deixou reminiscências no nosso sistema nacional de saúde.
Paulo Freitas do Amaral, Historiador e Professor