BE: O Partido, movimento das solidariedades
Um partido das solidariedades é um partido movimento que atua na esfera da agenda política institucional, mediática, mas também, em paralelo, no combate às injustiças e desigualdades sociais no contexto de movimentos exteriores a si próprio. Deve ser uma estrutura em diálogo permanente com as comunidades, os ativismos e as organizações de trabalhadores que se defrontam com os problemas resultantes do austeritarismo e do desmantelamento do estado social, onde se inscreve.
Na dupla lógica que ocupa em diferentes escalas – nacional e internacional – o partido das solidariedades está representado institucionalmente, onde é reativo, proponente legislativo, inquiridor no quadro formal das políticas públicas, mas também propulsor da uma agenda mobilizadora, capaz de dar eco a uma ideia de sociedade anticapitalista. Deve por isso, centrar-se não só nos aspetos que se relacionam com a resposta imediata à crise, mas também no fomento de políticas alternativas que impulsionem uma economia que devolva a confiança aos cidadãos. Será através de um encadeamento de políticas conhecidas, outras experimentais, inovadoras, e necessariamente alternativas ao capitalismo, que se poderá iniciar esse processo.
O partido, movimento das solidariedades, necessita de uma dinâmica de luta social intensa que alimenta, no sentido de fortalecer a capacidade de enraizamento da sua militância, e procura estimular práticas de emancipação social, económica, laboral e cultural.
O objetivo é derrubar o capitalismo e construir uma sociedade socialista do século XXI. Este é um objetivo de longo alcance, que deve ser entendido como um objetivo de longo prazo. Ora um partido de cariz transformador, revolucionário, tem também de ter objetivos de curto e médio prazo.
O processo de desvalorização interna, no jargão neoliberal, está a deixar muitas marcas. Um país pobre, endividado, desempregado, emigrante, privatizado e assistencialista.
É neste contexto que o Bloco tem que fazer opções que são prementes. Num país exaurido, a esvair-se e a esvaziar-se, equacionar este modo de fazer política é fazer uma escolha.
Ser um partido mais amplo, representativo e inserido socialmente, capaz de discutir na ação concreta modelos e práticas transformadoras anticapitalistas que se reflitam na vida das comunidades é também o seu objetivo.
Discutir como poderia este movimento das solidariedades ser “fundado”, por que frentes de trabalho se começaria, a sua arquitetura, analisando os seus pontos fortes e fracos é outro desafio que se só coletivamente poderá ser alcançado.
O partido, movimento das solidariedades para resultar terá que ter uma assunção coletiva e mobilizadora por parte do Bloco, dos seus aderentes e militantes. As repercussões internas na organização do partido, e de compromisso com os movimentos sociais far-se-ão sentir. Falamos por exemplo de uma diferente distribuição dos funcionários, uma nova centralidade politica que permita apoiar, amplificar e dar voz aos projetos que existem, bem como defender politica-social-juridicamente os movimentos e a expressão social que apoia.
É neste quadro que o BE tem de pensar e agir para dar resposta. Responder a esta crise significa também a capacidade de antever e desenhar no terreno políticas justas e alternativas ao capitalismo.
“Quem quer faz a hora, não espera acontecer” diz a canção de Geraldo Vandré. E trata-se disso mesmo.
A necessidade de criar modelos laborais e ecológicos sustentáveis, é indispensável para que um sistema de agricultura, indústria e ensino alternativo, se estabeleça e responda a necessidades concretas.
Ajudar as comunidades a fortalecerem-se, aumenta os laços de confiança numa sociedade espartilhada e avançar modelos piloto de economia anticapitalista, onde o mutualismo, a auto-organização, a solidariedade e a redistribuição capacitam ideologicamente as populações.
Ajudar à organização de movimentos de protesto é também fundamental. Eles alavancam a contestação direta ao modelo económico e social vigente. Mas é preciso gerar esperança e capacitação para pensar o que fazemos agora. Emigramos ou construímos nós as alternativas? Este é o binómio com o qual lida a população em idade produtiva, e nela uma boa parte dos aderentes do Bloco de Esquerda.
O Bloco de Esquerda conta no seu quadro de militantes com gente qualificada nas mais diversas áreas. A discussão inclusiva e militante em torno das saídas para a crise, não pode apenas alavancar-se na escolha de como se renegoceia ou rejeita a dívida, nem nas consequências de uma saída do euro, mas também deve alicerçar-se na questão de como construir um Portugal diferente.
O partido movimento das solidariedades não tem fronteiras. Articular redes e agendas com os diferentes coletivos que por essa europa e mundo fora já se constituíram em torno da resistência à dominação neoliberal é uma prioridade. É por essa ideia que não baixamos os braços e é por essa ideia que afirmamos que um outro mundo é possível.
Contributo de Pedro Rodrigues e Luísa Moreira para a IX Convenção do Bloco
in «Reinventar o Bloco»