Opinião

O Suplemento Extra para Pensionistas – Por Diogo Sousa

O recente anúncio de Luís Montenegro de um apoio extraordinário destinado aos
reformados com pensões mais baixas surge como uma medida que ajuda a mitigar as
dificuldades orçamentais na vida de muitos cidadãos. Numa altura em que a inflação e as
dificuldades económicas afetam de forma desproporcional os mais vulneráveis, qualquer
suplemento que venha a reforçar o poder de compra dos reformados é positivo. No entanto,
é impossível não perceber que, por trás desta ajuda, há também uma estratégia política.

Não há dúvidas de que os reformados com pensões reduzidas enfrentam desafios diários
significativos, com rendimentos que mal cobrem as despesas básicas, pelo que qualquer
apoio adicional pode significar a diferença entre viver com dignidade e sobreviver com
dificuldades, especialmente no mês em que o suplemento é pago. Esta medida, portanto,
não pode ser subestimada em termos de impacto prático. É um reconhecimento, por parte
do governo, de que as reformas em Portugal ainda são insuficientes para garantir uma vida
confortável aos pensionistas. Ao direcionar este apoio para um público vulnerável, o
governo de Luís Montenegro demonstra sensibilidade às necessidades dessa população.

Porém, ao analisarmos o contexto em que esta medida é anunciada, torna-se evidente que
há um forte componente de cálculo político. Esta é a primeira Festa do Pontal em que o
PSD está no poder desde 2015, e o momento escolhido para fazer este anúncio não é
acidental. O suplemento às pensões surge a pouco tempo de um novo ano eleitoral, num
período em que a apresentação do Orçamento do Estado para 2025 será central no debate
público.

Mais ainda, não é difícil traçar um paralelo entre esta medida e as ações similares tomadas
pelos governos anteriores do Partido Socialista. Nos últimos anos, o PS também
implementou apoios extraordinários dirigidos aos pensionistas e a outros públicos-alvo
mais vulneráveis, claramente com a intenção de consolidar o apoio deste eleitorado. O
anúncio de Montenegro é uma resposta direta a essa estratégia, tentando captar o mesmo
grupo de eleitores que tem sido alvo de promessas e apoios pontuais.

Embora o apoio extraordinário seja, sem dúvida, uma resposta necessária e que pode fazer
uma diferença concreta na vida de muitos reformados, é essencial reconhecer o caráter
oportunista da medida. Num cenário político onde os apoios financeiros se tornaram uma
ferramenta comum para angariar votos, é legítimo questionar até que ponto estas ações são
motivadas por verdadeira preocupação com o bem-estar dos cidadãos ou se são apenas
táticas para assegurar a vitória nas urnas.

No final das contas, os reformados que receberão este suplemento provavelmente não se
importarão com as intenções políticas por trás da medida – para eles, o que importa é o
alívio que este apoio traz, ainda que de forma momentânea. Contudo, para uma análise
mais profunda e crítica, é necessário manter em mente que, embora eficaz no curto prazo, o

verdadeiro progresso reside em políticas de longo prazo que garantam reformas mais dignas
e sustentáveis, para que medidas extraordinárias como esta se tornem cada vez menos
necessárias.

Diogo Fernandes Sousa
Docente do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte

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